Entrevista
Airton José Vinholi Junior
O docente de Biologia, Airton José Vinholi Junior, escolheu sua profissão quando era criança. Ainda no ensino fundamental, usava os móveis do quarto como quadros negros para alunos fictícios. Após se formar, foi trabalhar na Amazônia, onde teve contato com a biologia em seu estado natural. Mestrado e doutorado vieram como consequência do esforço e dedicação ao magistério.
Pró-reitor de Extensão do IFMS desde abril de 2016, Airton acredita que a extensão está sendo cada vez mais valorizada e cita inúmeros avanços. Ele faz planos para um IFMS preparado para ajudar a comunidade e promover grandes eventos de extensão.
No Perfil do Servidor deste mês, ele trata ainda sobre os Jogos Regionais dos Institutos Federais, que serão sediados pelo IFMS neste ano pela primeira vez, sobre a Política de Extensão recentemente publicada, e sobre outros trabalhos realizados pela Proex.
Confira isso e muito mais na entrevista a seguir!
Onde nasceu e como foi sua infância?
Nasci em 1980 em Umuarama, no Paraná, e mudei para Naviraí em 83, com meus pais e minha irmã. Comecei a estudar, efetivamente, em Campo Grande. Fiz a primeira e a segunda série na escola Perpétuo Socorro e depois, todo o restante, em escola pública, onde depois eu passei a lecionar.
Eu já sabia que seria professor desde muito cedo. Quando entrei na escola, tinha um guarda-roupa preto que eu usava para dar aula para um público fictício. Estava muito claro que seria professor, só não sabia do quê. Me identifiquei com a Biologia no ensino médio. Foi uma escolha certa, é uma área que me encanta muito.
Não tinha a mínima possibilidade de estudar numa universidade privada, então, mesmo com toda a grande dificuldade que estava passando na época, eu me concentrei nos estudos.
Fiz graduação na UFMS, mas desde o meu primeiro ano eu já lecionava. Com 18 anos, já tinha nove turmas de ensino médio. Lecionava à noite e pegava três ônibus para dar aulas. Às vezes voltava a pé para casa porque tinha que usar o dinheiro do ônibus para fazer uma refeição. Meu curso era integral, pois fiz licenciatura e bacharelado. Eu saía as seis da manhã e chegava depois da meia-noite em casa.
Você viveu uma grande experiência na Amazônia. Como foi isso?
Após terminar a graduação, fui convidado para um projeto no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Fiquei seis meses trabalhando na floresta. Foi uma experiência muito boa como biólogo, pois lá você é, de fato, um biólogo. Essa experiência me incentivou a gostar da biologia prática, dura.
Quando eu retornei da Amazônia - porque meu pai estava muito doente nessa época - , comecei a trabalhar num projeto da UFMS e dava aula à noite. Assim fui levando... Em 2004, as coisas começaram a melhorar bastante, pois muitas escolas começaram a me chamar para dar aulas. Eu dava aula em muitos cursinhos também. De 2004 a 2007, tinha aproximadamente umas 50 a 60 aulas por semana. Foi bem penoso. Tinha só um período da noite de folga.
Aos sábados, ainda lecionava na comunidade quilombola de Furnas do Dionísio. Mas foi uma experiência incrível, eles valorizam a sua aula. Foi muito bom trabalhar lá!
Quando decidiu fazer o mestrado?
Era um sonho que eu tinha, mas achei que não teria tempo, pois não podia diminuir as aulas. Em 2006, ano em que meu pai faleceu, passei no concurso do Estado para ser professor efetivo, pois era contratado desde 1999. Então em 2007 eu passei no mestrado, diminuí minhas aulas para 40 por semana.
Depois do mestrado, minha vida melhorou muito, porque o meu trabalho de pesquisa foi muito bom. Desenvolvi na comunidade quilombola de Furnas, fiz um trabalho de conhecimento tradicional com plantas medicinais. Foi um trabalho muito marcante pra mim. Defendi em 2009 e em 2010 consegui trabalhar em escolas melhores, trabalhando menos e ganhando mais.
Como começou sua história no IFMS?
Em 2011, passei no concurso para o Campus Ponta Porã, uma cidade que eu gostava muito. Confesso que não sabia o que era o IFMS, mas pensei que sair um pouco de Campo Grande seria interessante para mim. Foi uma prova bem difícil, bastante concorrida. Achei que teria menos candidatos, mas veio muita gente do Paraná. Graças a Deus eu passei e, em termos de destino, foi muito bom eu ter ido para lá e ter ficado cinco anos.
Comecei minhas aulas em Ponta Porã em 2011 e em 2012 passei no doutorado. Dava 18 aulas no IFMS, fazia o doutorado, era coordenador de Extensão do campus e coordenava o Pronatec. Foi muito difícil, mas consegui fazer tudo isso nesse período.
Você sempre fez muitas coisas ao mesmo tempo?
Sim. E eu dava conta, pois lá em Ponta Porã eu não tinha família, então ficava o dia inteiro no campus. Esse negócio de trabalhar oito horas por dia nunca existiu para mim lá, principalmente depois que mudou para o campus definitivo. Como eu morava longe, pouquíssimas vezes fui para casa na hora do almoço. Era comum eu chegar às oito e ficar até de noite. E isso era bom. Tinha uma boa relação com todo mundo.
O IFMS me fazia muito bem lá. Gostaria de morar em Campo Grande por questões familiares e pessoais, mas a cidade de Ponta Porã e o campus têm uma história na minha vida muito marcante.
Em 2015, defendi o doutorado e, nesse momento, muita coisa começou a prosperar para mim em termos de pesquisa e eu deixei um pouco da biologia dura. Sair um pouco do quadro e giz é bom, mas você não consegue medir se isso foi bom para o estudante, não dá pra medir esse potencial. Fazer pesquisa em ensino é interessante porque você consegue mensurar isso. Minha pesquisa de doutorado foi no IFMS, um trabalho interessante em Ponta Porã, nessa linha de ensino-aprendizagem. O título era Utilização de Modelagem Didática para uma Aprendizagem Significativa em Biologia Celular.
Em fevereiro de 2016 recebi o convite para assumir a pró-reitoria de Extensão. Acabei vindo em abril.
Na sua visão, quais são os pontos principais de aprimoramento que traz a Política de Extensão do IFMS, recentemente aprovada pelo Cosup [Conselho Superior]?
Tínhamos um documento feito em 2010, que não contemplava todas a demandas que temos hoje. Houve até uma recomendação da CGU [Controladoria Geral da União] para modificar esse documento. Era muito amplo e pouco efetivo.
Em 2016, tivemos um ano tanto teórico, quanto prático. O teórico é a construção desse documento de políticas e de outros que a gente tem. Você construir um documento de política é muito difícil, porque ele não tem que ter a cara da Proex, mas sim toda uma articulação e um aporte institucional.
Muitas coisas ainda não estavam definidas na instituição. O primeiro passo foi definir, de fato, bem consolidado, o que são as nossas atividades de extensão. Agora sabemos o que é um projeto, um curso, um evento e o que é um programa de extensão. O procedimento para a submissão de um projeto de extensão agora está claro. Também está claro quem rege as bolsas de estudantes e o auxílio financeiro para os servidores.
Esse documento está muito mais sucinto e objetivo sobre o que é a extensão de fato. A questão majoritária e prioritária é envolver a comunidade externa nas nossas atividades.
Professor, qual o panorama que o senhor tem da extensão e o que vai melhorar a partir deste documento? Qual o futuro?
Geralmente, a extensão é o último lugar. É muito claro para a maioria dos servidores o que é ensino, o que é pesquisa, o que é administração e também tem uma noção do que é desenvolvimento institucional, mas extensão, nem sempre. A própria definição de extensão gera muita controvérsia. E isso foi muito perceptível, pois havia muitos projetos de extensão para analisar e boa parte não envolvia a comunidade externa, pois não havia uma definição clara.
A intenção era fortalecer a extensão no IFMS, e o conceito de extensão. Com bastante diálogo, a gente vem conseguindo fazer isso. Recursos que, muitas vezes, vêm para outras pró-reitorias, tentamos dialogar que isso pode ser usado de uma forma interessante para a extensão. E estamos conseguindo, nem sempre com facilidade, mas com bastante diálogo. O professor Simão [reitor Luiz Simão Staszczak] tem escutado muito a Proex também, o que me dá uma liberdade de trabalho muito boa aqui dentro.
Nós ficamos bem mais rigorosos nas nossas análises. Se a proposta não está boa, nós devolvemos e pedimos para reformular. Tem que saber escrever, tem que ter um conhecimento de metodologia extensionista. É um exercício demorado, talvez eu não consiga nessa gestão, mas já demos passos muito bons.
O IFMS vai sediar pela primeira vez a etapa Centro-Oeste dos Jogos dos Institutos Federais. Quais são as expectativas para esse desafio?
É um desafio muito grande. Neste ano, por uma solicitação dos campi, conseguimos levar para o interior os Jogos do IFMS. Fizemos com que o campus tivesse noção do que é organizar esse evento. E o Campus Dourados foi impecável. Agora vem o Centro-Oeste, quando nossa preocupação potencializa cinco vezes mais, pois são cinco Institutos participando, mais o Campus Campo Grande, que é considerado como uma outra delegação.
Será Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Goiano, Brasília e Campo Grande. Seis delegações e todas confirmaram presença. Estamos trabalhando. Tivemos muitos problemas com a logística dos locais de competição, muitas portas foram fechadas após as tratativas já combinadas.
Estamos com um grande problema de orçamento, que faz com que a gente não consiga trazer mais recursos. É um desafio muito grande, mas será uma marca para o IFMS muito boa. A instituição cresceu e já vai sediar um evento esportivo desse porte. Estamos torcendo e confio muito na nossa equipe.
Vamos falar um pouco sobre a Semana do Meio Ambiente e o Festival de Arte e Cultura. O que esses eventos trazem de mais produtivo para nossa comunidade interna e externa?
A gente não vê no nosso país uma valorização da questão ambiental e cultural. Nós quase tivemos a extinção do Ministério da Cultura!
Na parte ambiental, nossa lei é a mais bem escrita do mundo, mas a menos aplicada. A gente acredita que favorecer momentos como esse ajuda a levar para o público a preocupação com essa questão ambiental. Os valores, os saberes, a educação ambiental propriamente dita, a preocupação com a biodiversidade, com as gerações futuras. A instituição tem que trabalhar com a conscientização. Este trabalho, que traz a comunidade para dentro do Instituto, ou que o Instituto vai até a comunidade, abre espaços para atividades de muito diálogo.
São poucos os institutos que fomentam a Semana do Meio Ambiente. Todos fazem, mas organizados por um campus, sem fomento. Embora o fomento tenha diminuído no IFMS, do ano passado para este ano, o evento ocorreu nos dez campi para levar a mensagem ambiental à comunidade e também trazer de fora para dentro. Acho que isso é muito importante.
E o Festival?
O Festival de Arte e Cultura foi um dos maiores acertos da Proex, com certeza. É o evento que dá muito visibilidade para o IFMS em relação à comunidade externa. No ano passado, foi muito positivo o feedback que tivemos. Pude estar em aberturas do Festival em alguns municípios, a gente sente um clima nunca igual visto em outros eventos.
A cultura mexe com a gente. Quando você vê uma peça de teatro, muito daquilo entra em alguma questão arraigada em nossa história, e isso faz bem pra gente. Levar a cultura é muito interessante para o povo e trazer a comunidade para dentro do Instituto é muito bom. Tivemos que cortar muita coisa na Proex, mas aumentamos o valor do fomento do Festival de 2016 para 2017. Isso mostra o bom exemplo e a preocupação do IFMS com a arte e cultura.
A nossa intenção é promover programas, e não apenas eventos, que funcionem o ano inteiro, relacionados à arte e à cultura. Pode até culminar em um evento, mas que sejam programas permanentes, que tenham bolsistas, envolvam os estudantes. Estamos apenas esperando essa 'tempestade passar' para fomentar isso.
Como os eventos de extensão contribuem com nossos estudantes na questão da permanência e êxito?
Geralmente, uma atividade de extensão é diferenciada em relação àquelas que o estudante tem em sala de aula. É uma consequência do ensino, pois ensino, pesquisa e extensão estão em permanente interação, mas vou dar um exemplo.
Quando um estudante gosta de um instrumento musical, aquilo faz bem a ele. Se ele não tem condições de ir para uma escola de música,se puder participar de uma atividade de extensão que envolva a questão musical, ele vai se identificar com isso. Vai poder mostrar seu talento para as comunidades interna e externa, e é nisso que ele vai ter mais vontade de ficar no IFMS. Mas o estudante sabe do compromisso. Não basta estar no IFMS apenas pelo hobby, por algo que goste muito, ele sabe que precisa estudar, senão no próximo semestre ou ano, pode não conseguir continuar no projeto.
O esporte é outro fator fantástico. Precisamos com urgência de um programa para ele. Há estudantes que, pelo tempo ou pela questão social, não têm como treinar em outro local. Um projeto em que ele possa treinar faz bem ao físico, à pessoa, e ele cria um comprometimento interno com a instituição.
A extensão tem atuação na relação da instituição com a comunidade externa, mas também com instituições parceiras. Qual o papel destas relações interinstitucionais para o IFMS?
É importante frisar que as cooperações não são da extensão, algumas estão relacionadas a projetos, mas elas abarcam todas as pró-reitorias. Mas tudo que envolve cooperação é feita por nossa Diretoria de Relações Institucionais. Cada uma destas parcerias traz algum benefício para a gente, de alguma forma. É a abertura na empresa ou instituição para que a gente possa mostrar o nosso papel, ou é um curso que podemos ofertar para um município, ou público específico.
De uma forma ou de outra, a cada parceria que fazemos, e isto tem aumentado expressivamente do ano de 2015 para cá, a gente fortalece não a extensão, mas a instituição como um todo, tornando o IFMS mais conhecido. As cooperações também aumentam a responsabilidade entre as instituições, ficam firmadas as contrapartidas, e isso é fantástico, pois fortalece as relações, consequentemente, tudo melhora.
Temos feitos grandes cooperações, temos nos aproximado das instituições públicas de ensino, das universidades, de uma forma muito ampla. Quando penso em cooperação, penso em aumento, expansão e fortalecimento.
Gostaria de apontar outros trabalhos desenvolvidos pela Proex?
Temos a questão da inclusão e da diversidade, dentro da Diretoria de Extensão. Quando disse que 2016 foi um ano muito teórico, também me referi à finalização do regulamento do Napne [Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas], e de documento do Neabi [Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas]. Também finalizamos um documento não obrigatório, mas que considero imprescindível, que é o Regulamento do Uso do Nome Social para Travestis e Transexuais, para que possam ter direito de utilizar conforme sua representação de gênero.
Nós colocamos no nosso cronograma um evento voltado a este público do Napne, para discussões. Este ano será em Aquidauana, em 2016 foi em Campo Grande. É mais um fomento que damos para essa área que ainda tem muita carência. O IFMS demorou para começar a questão inclusiva, mas começou. O ano passado foi teórico, neste ano estamos na prática, os problemas aparecem, mas é com eles que acabamos crescendo e dando um rumo melhor para as coisas.
A gente tem uma equipe fantástica na Proex, as pessoas são boas de trabalho, todo mundo se ajuda. Tenho muito orgulho de estar aqui hoje, coordenando essa equipe.
A nossa abertura aos campi é muito ampla. Escutamos as críticas e as sugestões sempre de forma positiva. E isso tem sido muito bom, porque o diálogo com os diretores, com os coordenadores de extensão, é extremamente satisfatório no IFMS. É um crescimento de toda a base dos campi. Isso tem sido um papel fundamental para o fortalecimento da extensão e vai melhorar ainda mais.
Eu sou bastante ousado, não tenho medo de fazer as coisas. E acredito que, mesmo que tenha um risco, sempre devemos fazer. As metas têm que ser efetivadas de fato. Aos poucos estamos fazendo.