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ENTREVISTA

Angelo Cesar de Lourenço

Professor de Eletrotécnica do Campus Campo Grande, atual Procurador Institucional do IFMS
por Paulo Gomes publicado: 28/09/2016 16h20 última modificação: 28/09/2016 16h18

Professor do Campus Campo Grande desde 2010, Angelo Cesar de Lourenço atualmente é o Procurador Institucional do IFMS. Na entrevista abaixo, ele trata sobre a importância do trabalho desenvolvido no cargo para a consolidação da imagem do Instituto perante a sociedade.

Ele também conta sobre a criação dos primeiros cursos na instituição e sobre sua recente tese de doutorado na Unesp (Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”). O tema é complexo para quem não entende a área de Engenharia Elétrica, na qual ele é formado. Angelo estudou a transmissão de energia e os aparelhos eletrônicos que jogam “sujeira” na rede e desenvolveu um aparelho capaz de “limpar” a energia elétrica.

Conheça um pouco mais sobre este nosso colega, que nasceu no Paraná, mas considera Campo Grande sua cidade, pois mora na Capital desde os quatro anos. E também entenda qual a relação entre a espuma do chopp e a sujeira nas redes de energia elétrica.

Como é a sua história com Campo Grande?

Eu sou natural de Maringá, no Paraná, mas vim para Campo Grande com quatro anos de idade, em 1981. São mais de 30 anos de história em Campo Grande. Fui criado e me formei na universidade aqui. E toda a família mais próxima está em Campo Grande.

Qual é sua formação?

Em 1994, ingressei no curso de Engenharia Elétrica na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Formei em 1998 e, logo em seguida, ingressei no mestrado na Unesp, em Ilha Solteira. Fiquei durante dois anos lá e voltei para Campo Grande em 2001, quando ingressei na antiga BRT [Brasil Telecom]. Fui contratado como engenheiro de telecomunicações à época.

Como foi sua passagem pelo mercado privado?

Na época, houve a privatização e o desenvolvimento das telecomunicações era recente. Quem viveu a década de 90 sabe que ter um telefone era artigo de luxo. A privatização trouxe alguns benefícios, que foi o barateamento das linhas. Porém, teve o ponto negativo, o trabalhista. As empresas terceirizavam muito o serviço e isso foi degradando a relação ao longo dos anos. Fiquei de 2001 a 2010 na Brasil Telecom. Passei por várias transições de setores, que eram mudados, unificados, e as pessoas demitidas.

Em 2006, eu estava em um setor de monitoramento de rede de comunicação de dados e esse setor foi unificado para Florianópolis, então fui para lá. Fiquei lá durante três anos. Nessa época, a Brasil Telecom foi unida com a Oi, que era a Telemar. E um setor nosso também foi extinto em Florianópolis e foi para o Rio de Janeiro. Mas eu optei por não ir. Estava aguardando algumas mudanças e consegui voltar para Campo Grande.

Foi essa instabilidade na vida profissional que fez você buscar concurso?

Você acaba buscando um pouco mais de segurança, mas também foi por questão de educação. Na época, eu fiz concursos e acabei passando em um da Petrobras, em 2009, mas tinha que fazer um curso na Bahia. Optei por não ir. A Petrobras já era a melhor empresa do Brasil para se trabalhar, só que a carreira era uma incógnita e eu estava muito ligado à Oi. Eu teria que ir para a Bahia, ficar um ano lá. Não sei se a família iria junto. Acabei optando por ficar na Brasil Telecom em Campo Grande e visualizando concursos aqui também. Fiz o concurso do IFMS e outros concursos. O IFMS me chamou e eu vim com bastante esperança.

Você encontrou o que procurava aqui?

Eu estou no Instituto há seis anos. E, com certeza, quero cumprir minha carreira aqui. Não é por tranquilidade. A gente desenvolve muitos trabalhos, mas sabe que vai crescer junto com o IFMS. O Instituto dá segurança, apesar de você trabalhar tanto quanto na iniciativa privada.

E tem as oportunidades na carreira também, certo?

Sim, consegui concluir minha pós-graduação aqui, meu doutorado. Coisa que na iniciativa privada eu não conseguiria. O aprimoramento acadêmico não é incentivado naquele setor. Ninguém te proíbe, mas você tem que desenvolver por conta própria.

Aqui no Instituto o senhor já passou por outras funções e setores. Pode falar um pouco dessa trajetória?

Eu ingressei no Instituto no dia 31 de agosto de 2010. Fui o primeiro servidor a ser chamado no concurso de docentes de Campo Grande. Em seguida, vieram outros colegas e a nossa função era preparar os cursos que seriam lançados no ano seguinte. Logo no início, formamos várias comissões de preparação de projetos pedagógicos dos cursos. Também em 2010 estávamos preparando os cursos superiores.

Nessa época, fui indicado pelo reitor para ser o Procurador Institucional [PI]. Então, fizemos os primeiros contatos para lançar o Instituto nos sistemas do MEC. Essa função eu exerci até 2014, antes do meu afastamento para o doutorado. E retornei agora para essa função. Também fui coordenador-geral da Rede e-Tec.

Como funciona o trabalho de Procurador Institucional?

São duas diferentes legislações que regem. Uma é o pesquisador institucional, que é o voltado para o Inep [Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais], para o censo da educação superior e da educação básica.

Esse mesmo profissional acabou sendo englobado pela regulação e se tornou Procurador Educacional Institucional. Ou seja, aumentou a função dele, não só como censitário, mas também regulatório na educação superior.
Nós acompanhamos diversos sistemas no Instituto Federal. Quem os mantém são os servidores da Cerel [Central de Relacionamento dos campi] e das secretarias. Os sistemas da educação superior são bastante integrados. Você tem um sistema principal que é o Sistema e-Mec. Toda a regulação superior, de todas as escolas privadas e particulares, e as públicas.

Ali, nós temos acesso ao Sisu [Sistema de Seleção Unificado]. Para um curso ser ofertado pelo Sisu, ele precisa estar no e-Mec. O Enade [Exame Nacional de Desempenho de Estudantes] também está integrado ao e-Mec.
Tudo que temos que fazer é manter o e-Mec atualizado. Minha função é controlar se isso tudo está atualizado e cobrar se houver necessidade de atualização. Temos colegas que ajudam, mas o controle maior é o PI quem desenvolve. Na educação tecnológica, nós temos o Sistec [Sistema Nacional de Informações da Educação Profissional e Tecnológica], que o PI acompanha, mas quem desenvolve são as Centrais de Relacionamento. Não é um sistema acadêmico, mas de acompanhamento de número de alunos, que nos dá a base para o orçamento.

Por que é importante para a Instituição manter esses dados atualizados?
Para começar, é uma obrigação nossa perante o Ministério e a sociedade. Nós temos que mostrar como está nossa situação, nosso número de alunos, para a sociedade. Os números sintetizam a missão do Instituto Federal. Segundo, nossa base orçamentária vem desses números. Também precisamos responder às solicitações de informações da transparência, que são diversas, para atender a Lei de Acesso à Informação. Para isso, a nossa principal base é o Sistec.

No dia 26 de cada mês, tiramos uma radiografia do Sistec e essa é a base daquele mês. Essa data foi escolhida porque é a data em que o MEC busca os dados. Matrícula é uma coisa trabalhosa, por exemplo, pois é preciso fazer todo o processo de matrícula e lançar no Sistec antes do dia 25.

E quais são os benefícios para a Instituição de manter os indicadores em dia?

É importante para a gente se conhecer. Nós precisamos nos conhecer! Temos um plano de metas, que tem uma previsão de crescimento, e temos que saber se estamos cumprindo. A nossa função acaba se refletindo em números. Não só a quantidade, mas a qualidade. Se estamos perdendo alunos, se estamos tendo evasão de um mês para o outro. Sabendo, é possível atuar no problema. Quanto mais o sistema estiver mostrando a realidade, melhor para o nosso desempenho, para a nossa imagem, para mostrar para a sociedade que o Instituto tem uma missão e está cumprindo essa missão.

O senhor se afastou para fazer o doutorado. Poderia explicar para nós o que foi a sua tese?

Fizemos uma proposta na área de Qualidade da Energia Elétrica. Antigamente, nos anos 60 e 70, tínhamos equipamentos com cargas lineares. Na indústria tinha motores elétricos, ligados na tomada diretamente, sem inversores de frequência. As suas máquinas eram simples e os eletrônicos eram raros.

O que aconteceu nos anos 80 e 90 até atualmente? Rápido desenvolvimento da eletrônica. Isso mudou o nosso mundo. A informática, a computação, a telefonia e, principalmente, a telefonia celular. Tudo isso tem um custo em tecnologia e o sistema elétrico não está preparado para as cargas eletrônicas, chamadas de cargas não lineares.

Simplificando, esses aparelhos novos produzem uma corrente elétrica que “suja o sistema”. Hoje, o nosso sistema elétrico pode perder até 20% de sua capacidade por conta disso, o traz problemas, como ruídos na rede que atrapalham o funcionamento de alguns equipamentos e redução no fator de potência, que é a capacidade do sistema de fornecer energia.

O meu trabalho foi voltado para desenvolver um conversor com alto fator de potência, voltado para minha área de trabalho no Instituto, que é Máquinas Elétricas, pois sou professor de Eletrotécnica.

Na universidade fazemos um comparativo com o copo do chopp. Quanto mais espuma, menos chopp. As espumas são os harmônicos. Uma espuminha mantém o sabor, segundo os entendidos, espuma demais diminui a quantidade de líquido. Neste caso, a sujeira, que tecnicamente chamamos de harmônicos, é a espuma.

O que o Instituto representa na sua vida hoje?

É a oportunidade de desenvolver uma atividade que eu gosto muito, que é a docência. Atualmente, além da atividade de PI, eu estou como docente do Campus Campo Grande, esperando apenas a unidade poder ofertar mais cursos para podermos dar mais aulas num futuro próximo.

Profissionalmente, o Instituto é onde eu quero permanecer, é onde eu quero ficar até o final da minha carreira. Ele trouxe para mim essa oportunidade de me sentir valorizado.

Qual a sua visão de futuro do IFMS?

O Instituto já está consolidado no Estado, mas tem a oportunidade de crescer ainda mais. Ofertar mais cursos e mostrar para a sociedade que ele realmente forma alunos, profissionais e pessoas que não teriam oportunidades assim em outro local.
Nós vamos nos firmar como uma das melhores escolas do Mato Grosso do Sul e do Brasil, junto com a Rede Federal. Também quero que a gente possa trazer inovações o mais breve possível.