Entrevista
Carlitos Fioravante Vieira de Oliveira
Provavelmente qualquer servidor que tenha enfrentado problemas com algum de nossos sistemas já conversou com o entrevistado desta quinzena. Vocês sabem quem é o homem por trás da voz, a pessoa por trás daquele cara que encontra as soluções?
Na entrevista abaixo, conheçam Carlitos Fioravante Vieira de Oliveira, que desde 2011 é analista de tecnologia da informação do IFMS.
No bate-papo, Carlitos conta sua trajetória, desde quando se tornou pai aos 18 anos e mantinha dois empregos para sustentar a família, até os dias de hoje, à frente da Coordenação de Sistemas, da Diretoria de Gestão de Tecnologia da Informação.
Ele também compartilha as dificuldades de implantação dos sistemas de informática no Instituto e sobre as perspectivas de crescimento para a instituição. E revela, ainda, os motivos que o levam a evitar computadores nas horas de folga. Confira!
Você é de Campo Grande?
Não. Sou de Curitiba, no Paraná, e morei lá até os quatro anos. Minha mãe é de Dourados e meu pai é de Rio Brilhante e eles foram para lá fazer faculdade, minha mãe fez Jornalismo, e meu pai, Direito. Quando eu tinha quatro anos, mudei para Dourados e depoir vim morar em Campo Grande, mais ou menos quando tinha seis anos. Sou praticamente campo-grandense, uma cidade que eu gosto muito. A minha esposa é de Campo Grande, minha filha é de Campo Grande, é uma cidade que eu adotei por minha e não penso em sair tão breve daqui.
Como é sua vida familiar aqui?
Minha vida familiar é tranquila, eu tenho uma esposa, uma filha e quatro cachorros. E quando eu não estou no Instituto, gosto de estar em casa, passeando com a minha família, brincando com meus cachorros... Não tenho nenhum hobby. Normalmente eu evito mexer com computador quando não estou no serviço. É uma coisa difícil. Evito celular, essas coisas, para não ficar muito bitolado, muito vidrado. Gosto de assistir a filmes, TV. Sou bem caseiro, bem tranquilo.
Você começou a trabalhar já na faculdade e se formou muito jovem?
Eu entrei na faculdade logo depois que saí do ensino médio, em 2003, para Ciências da Computação. Era um curso integral na UFMS [Universidade Federal de Mato Grosso do Sul] e logo em seguida, nesse mesmo ano que entrei, nasceu a minha filha. Então comecei a ter um pouco de dificuldade porque precisava trabalhar e não tinha como, porque o curso era integral. Passei num concurso de estágio lá no TRE [Tribunal Regional Eleitoral]. Ocupava metade do meu tempo e começou a conflitar com os meus horários da faculdade. Aí, no final do ano de 2004, fiz vestibular de novo, na UFMS, para Análise de Sistemas, que era um curso noturno. Gostei muito do curso, achei bem mais voltado para o mercado de trabalho.
Em 2005, comecei a estagiar no TCU [Tribunal de Contas da União] e a trabalhar também numa empresa, como operador de telemarketing. Trabalhava meio período lá, estagiava à tarde no TCU e de noite eu ia para a faculdade. Então, era aquela loucura!
Como tinha uma filha pequena, eu e a minha esposa batalhamos muito. A minha filha ficava um pouco com a minha sogra, um pouco na creche. Foram anos bem difíceis. Na empresa onde trabalhava, tive uma oportunidade interna. Passei por algumas provas e consegui ser selecionado para analista de suporte técnico, na minha área. Aí a vida deu uma modificada, melhorou o salário, deu outra visibilidade dentro da empresa. Pra mim foi muito bom.
Foi uma batalha isso que você viveu quando sua filha era bebê?
Foi uma batalha sim, pra mim e pra minha esposa. Na época, éramos só namorados e bem jovens. Ela tinha 19 e eu tinha 18. Tudo era muito novo. A gente não teve tanto apoio das nossas famílias e resolveu cuidar da nossa filha mesmo, só nós dois. Começamos a procurar trabalho, procurar uma casa, um lugar pra morar junto, formalizar a nossa situação mesmo. A gente tinha a necessidade de ter nossas coisas, o nosso lugar, criar a nossa filha do nosso jeito, constituir uma família mesmo.
Aí, consegui passar nesse concurso de estágio do TRE. E foi assim durante um ano. Morávamos em uma quitinete e depois mudamos para um apartamento, graças ao apoio de uma pessoa que virou nossa madrinha depois. Contamos com o apoio de algumas pessoas, mas não tínhamos praticamente nada, só o que cada um juntou de solteiro. Não tínhamos móveis, carro, moto, nada. Só a força de vontade mesmo de ficar junto e de criar a nossa filha. Depois disso, a gente oficializou a nossa união.
Como é o seu relacionamento com sua filha de 11 anos hoje, nessa era da tecnologia?
É bem complicado. Eu tenho até fotos de quando ela era pequenininha e com dois anos de idade já sabia mexer no computador, já mexia no mouse, já jogava. Ela sempre foi criada ali muito próxima e mais recentemente, com os smartphones, internet, a gente tem que ficar em cima. Eu e a minha esposa nos revezamos para ver o que ela está assistindo. A gente teve o cuidado de bloquear algumas coisas no perfil dela do Facebook, porque ficava muito aberto, então aparecia fotos dela, com amigas, fotos dela em casa com os cachorros, então começamos a restringir isso somente para o grupo de amigos dela, para evitar que pessoas de fora se aproveitem.
Há coisas que não existiam na minha época. Ela conversa com as amigas dela falando "alguém sabe a resposta da questão tal?", enquanto ela está fazendo tarefa. No meu tempo, se você não estivesse com seu colega do lado, você não tinha como perguntar sobre uma questão ou outra, se vai ter prova ou o que vai cair na prova. É bem complicado, tem que ficar bem em cima enquanto está formando a cabecinha, porque eles são explosivos, usam mesmo a rede com tudo, tiram foto e mandam sem pensar.
Como você ficou sabendo do concurso para o IFMS?
Eu tinha um amigo que era concurseiro e vivia tentando me chamar. Mas eu achava que teria que me dedicar mais aos estudos na parte da legislação. Então, eu ficava em busca da hora que fosse aparecer um concurso perfeito. Esse meu colega ficava botando mais pilha. Sinceramente, na época eu achava que não daria conta. Quando apareceu esse concurso do IFMS eu tinha pouco dinheiro para a inscrição e, no último dia, eu ainda pensei em desistir. Minha esposa falou: "Faz, nem que a gente fique sem dinheiro, mas faz a inscrição". Eu paguei nos últimos minutos que dava para pagar, pelo internet banking.
Eu não conhecia o Instituto. Perto de quando fui fazer a inscrição, fui dar uma pesquisada e gostei, achei que seria uma coisa interessante para Campo Grande e para a minha área. E aí, graças a Deus, eu passei. Foi muito bom. Demorou um pouco para me chamarem, por umas questões de código de vaga. Na época, a gente ficou ligando atrás na reitoria.
Quando eu entrei, em 2011, foi quando se formou a equipe de Tecnologia da Informação. As primeiras pessoas tinham entrado só duas semanas antes que eu. A gente estava iniciando uma equipe de TI dentro do Instituto. Não se tinha nada. Tinha um servidor da UTFPR [Universidade Tecnológica Federal do Paraná] que veio para montar as primeiras estruturas, mas não tinha nada em termos de equipe. Foi legal, pude ver a coisa nascendo.
O Instituto ajudou você a ganhar um equilíbrio na vida? Você vê dessa forma: um concurso que ajudou a construir a família que tem hoje?
Ajudou. Eu vejo assim, que se não fosse o Instituto, talvez eu estivesse trabalhando na mesma empresa ou em outra empresa, mas sinto que não só amadureci profissionalmente, mas como pessoa também, não só por causa do Instituto. É um local onde as pessoas querem trabalhar, elas estão todas unidas buscando um só intuito, que é a educação profissional aqui dentro do Estado. É um local que foi um marco pra mim.
Aqui eu tenho contato com pessoas que são da área e que não são da área. Tive a oportunidade de viajar representando o Instituto, de participar de workshops, de cursos. Acho que é um ambiente propício pra qualquer pessoa que queira se desenvolver na sua área e que tem intenção de seguir uma carreira. A gente tem muita oportunidade aqui dentro.
Passou por muitos problemas na entrada pela falta de infraestrutura?
Quando eu entrei, a gente ficava no Alto do Prosa. Não tinha nem mobiliário. Eles estavam montando as mesas e a gente ajudou a montar algumas, a carregar computador e caixas. Estava tudo nascendo, mas foi bem legal, já tinha uma certa estrutura, porque esses servidores que entraram antes, nessas duas semanas, já tinham feito algumas coisas. Já tinha algumas regras para criação de e-mail, já tinha uma rede montada, os computadores tinham chegado.
Eu assumi a incumbência do sistema acadêmico, na época era o Siga Edu. Já entrei no projeto e comecei a trabalhar e conviver com outros desenvolvedores do Brasil inteiro, outras pessoas que estavam envolvidas com a mesma coisa. Foi uma troca de experiência. Pude trabalhar com pessoas incríveis e aprendi muito.
Você acha que a TI no Instituto cresceu? Desenvolveu-se ao nível que o Instituto precisa?
Sim, a TI cresceu bastante. Lembro inclusive que, logo depois que entrei, a gente teve uma reunião grande e foram chamadas as pessoas de TI de cada campus e nem todos os campi tinham profissionais. Hoje todos têm. Na época a gente era uma assessoria de TI, para se ter ideia do crescimento, hoje nós somos uma diretoria.
Dentro do Instituto isso está acontecendo?
Aconteceu, claramente, logo depois que foi montada essa primeira equipe. O professor Willian [Dias, diretor de Gestão de Tecnologia da Informação do IFMS] entrou e ele é uma pessoa com uma visão muito estratégica. Já tinha experiência em outros órgãos e sempre teve essa visão de ampliar, de profissionalizar, de investir em treinamento e padronização dos processos.
Maquinário, hoje já temos uma estrutura boa, e nesse ano a gente está finalizando a compra de muitas coisas já planejadas. Temos uma demanda crescente por software, por soluções, visto que agora temos um quadro de servidores bom e eles sabem muito do processo, do que eles precisam acelerar ou automatizar. A gente trabalha em cima disso.
No começo do Instituto era difícil, não somente pela falta da equipe e dos equipamentos, mas, por conta de que os setores não sabiam muito bem como fazer o processo manual.
Melhorou?
Melhorou. Hoje a gente tem mais pessoas, que estão há mais tempo num determinado cargo, já adquiriram aquela experiência. A experiência já foi compartilhada com os outros.
Como é o relacionamento com os usuários do Instituto?
Olha, a gente tem um relacionamento muito franco, não costuma esconder as coisas. Se precisar falar um não, nós falamos e explicamos porque não pode. O que a gente escuta é uma falta de comunicação do tipo: "Por que tal coisa não existe? Por que não tem?". Às vezes, a gente sabe por que não é feito, já até falou para alguns setores porque não é feito daquela forma, mas não chegou ao campus, não chegou àquelas pessoas o porquê de não existir e não ser feito da forma que eles imaginam.
A gente está investindo nessa parte de disseminar o conhecimento dentro do Instituto também, provocar a participação dos alunos, dos professores. Tivemos alguns projetos feitos por estagiários, esse foi o primeiro ano que tivemos estagiários participando do desenvolvimento da TI aqui. E a participação de professores desenvolvendo coisas. A gente fomenta isso, deixa livre para que os campi possam participar também. Não somos uma caixinha fechada, nem tudo que a TI fala é regra. Buscamos o diálogo e fazer coisas que sejam boas e que atendam a todos. E dificilmente vamos fazer alguma coisa que não seja institucional. Por exemplo, se só o campus "A" precisa daquilo, aquilo vai ter menos prioridade do que algo que todos os campi precisam. A gente só talvez não atenda alguma demanda pontual por conta disso, porque tem uma demanda institucional que é pra atender todo mundo.
Tem algum desafio do Instituto que tenha te marcado? Uma conquista que você tenha conseguido junto com a equipe e que te marcou?
Olha, eu acho que foi no começo, a implantação do Siga foi uma batalha bem difícil. Lembro que nós chegamos a viajar por todos os campi, eram sete, em menos de duas semanas. Então, a gente praticamente ficava um dia inteiro no campus e saía no final da tarde, já viajando para a próxima cidade, em três servidores, num carro institucional, para conseguir dar um treinamento de um dia em todos os módulos do Siga. Fomos a todos os campi. Essa época aí foi muito marcante, porque tudo era muito novo, os servidores nos campi eram muito novos e a gente sentia como se tivesse chegando uma luz lá para eles. Nós não tínhamos estrutura de internet muito boa, os campi ficavam muito isolados, diferente de hoje. Até a estrutura de telefonia naquela época era muito ruim.
Hoje a gente consegue fazer uma videoconferência com todos os campi ao mesmo tempo. Agora, por exemplo, com um estalar de dedos, bem simples, naquele tempo não, era muito mais complicado. Nós fomos como desbravadores, apresentando um sistema novo para eles. Fizemos outra rodada de visitas algum tempo depois, mas essa primeira eu acho que, pelo menos pra mim, foi muito marcante.
O Siga ainda está funcionando?
Está. É o nosso sistema acadêmico. Continua o mesmo nome, nós utilizamos o Siga Edu pra vários cadastros. Hoje a gente tem o Siga Edu e o Siga Edu Extensão, são dois sistemas separados, mas que usam a mesma base de dados. Se eu gravo um aluno no Siga Edu ou no Siga Edu Extensão, ele tá no mesmo lugar, é o mesmo aluno, eu consigo vê-lo tanto em um sistema como no outro e, aos poucos, a gente vai migrando essa nova aplicação, esse novo sistema, até chegar um ponto em breve que a gente vai mudar o nome dele e ele vai ser o nosso sistema acadêmico. Ele vai estar mais maduro, com mais funcionalidades.
E a parte administrativa?
A parte administrativa mudou drasticamente. A gente saiu do Siga Adm, que ainda é usado hoje para a parte de patrimônio e almoxarifado, e adotamos uma solução que se chama SUAP, um sistema desenvolvido pelo IFRN [Instituto Federal do Rio Grande do Norte], que teve uma grande ascensão, um apoio muito grande do Conif [Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica].
O que você espera do futuro do IFMS, na parte de TI, na parte educacional, qual a sua visão de futuro para o IFMS?
Eu vejo o Instituto crescendo. A gente tem visto ações como a Semana do Meio Ambiente, Semana de Ciência e Tecnologia, essas questões de iniciação científica e outros projetos que têm envolvido o aluno e a comunidade. Hoje o Instituto é bem mais conhecido e acho que, quanto mais conhecido, mais as pessoas vão querer que seus filhos estudem aqui. Eu, por exemplo, colocaria minha filha para estudar no Instituto. Quando ela tiver idade, eu vou querer que ela estude no IFMS, se tiver um curso que ela goste.
Enquanto TI, a gente tem um crescimento esperado muito grande agora, por conta da chegada dos equipamentos para o nosso Data Center. A gente aproveita a estrutura da UFMS, que é uma grande parceira nossa desde o começo. Começamos essa montagem da estrutura desde que viemos pra esse prédio novo da reitoria e já adquirimos vários equipamentos, e agora estão sendo finalizados os últimos processos de compra de servidores e da parte elétrica.
Assim que isso tudo estiver pronto, aí vamos estar em um ambiente muito mais confortável para desenvolver e hospedar soluções novas, liberar a parte de projetos para que os professores e os campi possam estar também desenvolvendo seus projetos em paralelo com a gente.