ENTREVISTA
Daiane Cristina Sganzerla
Nascida no município de Gaurama (RS), a professora Daiane Cristina Sganzerla é uma gaúcha perdida em Mato Grosso do Sul. Depois de passar a vida toda no Sul do país, resolveu se arriscar no Centro-Oeste do Brasil. Em 2013, ingressou no Campus Nova Andradina do IFMS, mesmo sem ter a mínima noção de como era a cidade.
Graduada em Agronomia, Daiane tem mestrado e doutorado em Zootecnia, todos pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). O IFMS é a segunda experiência como docente. A primeira foi como professora substituta no Instituto Federal Catarinense (IFC), por quase dois anos.
No IFMS, além das disciplinas ministradas nos cursos da área de Ciências Agrárias, Daiane tem atuado à frente da Coordenação de Pesquisa e Inovação (Copei), sendo a primeira servidora a exercer essa função.
Um dos desafios, atualmente, é participar diretamente da implantação da incubadora de base tecnológica do campus, projeto-piloto do IFMS que tem como objetivo estimular empreendimentos inovadores de base tecnológica, de acordo com as potencialidades da região.
Neste bate-papo, Daiane fala um pouco sobre sua trajetória pessoal e profissional e sobre o ingresso e atuação no Instituto.
Como foi feita a escolha pelas áreas de estudo, tanto na graduação quanto na pós-graduação?
Inicialmente, meu objeto era cursar Biologia. Como não consegui passar, acabei tentando Agronomia, pois eram áreas parecidas. Não era minha primeira opção, mas depois que entrei e passei a conhecer melhor o curso, gostei bastante. Na graduação, existiam muitas bolsas de iniciação científica. Comecei fazendo estágio e depois consegui uma bolsa. Segui na área de estudo, que era pastagem, por afinidade, já que tinha uma boa relação com o meu orientador.
E o ingresso na universidade, como foi?
Morei em Gaurama até entrar na UFPel, em 2002. A distância entre as cidades era de quase 600 quilômetros. Não conhecia ninguém lá. O primeiro semestre foi bem difícil, mas nunca pensei em desistir.
A passagem da graduação para a pós-graduação foi direta?
Foi sim. E do mestrado para o doutorado também. Comecei na docência quando já estava saindo do doutorado. Logo fui para a sala de aula. Quando estava terminando o doutorado, vi que havia um edital aberto para professor substituto do Instituto Federal Catarinense (IFC). Prestei o processo seletivo e passei. A cidade, Concórdia, era perto de Gaurama, onde minha família morava. Então eu fui, já tinha terminado as disciplinas e experimentos, só faltava defender a tese mesmo.
A opção pela vida acadêmica, como se deu?
Eu sempre tive o incentivo dos meus pais. Na juventude eles não tiveram muitas condições, então meu pai sempre dizia que a melhor coisa que ele podia me deixar era o estudo. E eles conseguiram, fiz a graduação com o apoio deles, que me ajudaram muito nesse período. Quando estava na pós-graduação, o objetivo passou a ser ingressar na esfera federal, então passei a fazer concursos, principalmente por causa da estabilidade.
Sobre sua primeira experiência como professora, ainda no IFC, o que você pode falar sobre ela?
Foi difícil no começo. Cheguei em Concórdia e tinha quatro turmas de ensino médio, as classes lá eram grandes. Tive que estudar bastante, principalmente para melhorar na didática, tinha pouca experiência. Mas depois fui vai pegando prática. Hoje em dia eu gosto de dar aula, embora essa não fosse minha ideia anteriormente. Imaginava passar em um concurso federal, mas para atuar de outras formas, como na Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária], por exemplo. A docência acabou surgindo depois.
E a escolha por Nova Andradina?
Fiz o concurso sem saber muita coisa sobre a cidade. Foi em 2011. Uma amiga e eu resolvemos prestar a prova. Existiam duas vagas, uma para Nova Andradina e outra para Ponta Porã. Para nós não concorrermos, cada uma escolheu uma cidade. Mas eu nem sabia direito onde era Nova Andradina. Quando estava em Concórdia, um amigo meu que veio de Mato Grosso do Sul me contou como era aqui, me explicando que era longe, que a estrada é de chão [MS 473]. Mas, no começo, eu não tinha ideia.
Sua amiga foi aprovada também?
Não, apenas eu fui.
Tanto no IFC quanto no IFMS você atua nos cursos técnicos integrados. Como é a docência nesse tipo de ensino?
Os estudantes quando vêm para cá estão habituados apenas com as disciplinas básicas. Quando ingressam na Rede Federal surgem também as da área técnica. A responsabilidade deles aumenta, assim como a cobrança. Mas sinto também que os estudantes saem mais preparados, com uma experiência de vida maior, fato que pode ajudá-los futuramente.
E quanto às pesquisas desenvolvidas no ensino médio, qual a importância delas?
É outro diferencial também. Aqui são disponibilizadas bolsas aos estudantes, coisas que às vezes não acontece nem na universidade. Esse acesso à iniciação científica os prepara, pois quando forem entrar na graduação, se torna uma motivação maior para eles. Temos no campus estudantes de 16 e 17 anos, que já estiveram fora do país participando de eventos. Destaco ainda os trabalhos de conclusão de curso (TCCs), que exercitam o potencial deles para o desenvolvimento de pesquisas. Com certeza é um diferencial.
Sobre a implantação da incubadora de base tecnológica, como se encontra esse projeto atualmente?
A iniciativa em Nova Andradina começou através de um projeto da Fundect [Fundação de Apoio à Ciência e Tecnologia no MS]. O projeto foi aprovado em Campo Grande, por meio da Propi [Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação do IFMS]. Ele visa a capacitação para implantação das incubadoras, sendo o piloto aqui em Nova Andradina. Temos também no município a Finova [Fundação Instituto de Tecnologia e Inovação de Nova Andradina], voltada à criação de um parque tecnológico no município, que deverá ser administrado pelas instituições públicas que temos aqui. Dessa forma, a ideia foi fazer o projeto-piloto em Nova Andradina. Temos o suporte da Finova, por isso podemos desenvolver iniciativas em conjunto. Pretendemos publicar um edital até junho, para que a incubadora passe a funcionar.
Como tem sido esse trabalho de estruturação da incubadora?
Nunca havia trabalhado com isso anteriormente. O professor Pedro [Camargo, docente do Campus Nova Andradina] e eu estamos como responsáveis no momento. Estamos elaborando o plano de negócios para verificar a viabilidade da incubadora e quais são as áreas em que ela vai atuar. O plano de negócios é um dos primeiros passos. Posteriormente, será feita a publicação do edital e então se inicia a incubação. O objetivo é trabalhar em conjunto com a Finova, tendo a incubadora matriz na área urbana e uma extensão dela aqui no campus.
Como você avalia o desafio de se fazer pesquisa e inovação no campus?
O desafio é grande. Na área de Agronomia, por exemplo, ainda não temos laboratórios prontos e a área experimental é pequena. É difícil fazer pesquisa aqui, mas acredito que daqui algum tempo conseguiremos desenvolver nossas ações conforme planejado. Precisaremos fazer essa estruturação antes.
Quais as vocações do campus?
Foi feito um estudo sobre isso a pedido da Prefeitura Municipal. Aqui temos a Agropecuária e a Informática, duas áreas em que podemos desenvolver projetos de incubação. Quando a Fundace [fundação voltada à pesquisa e integração entre universidade e comunidade] fez o estudo, foi verificado essas são as duas áreas que têm mais vocação para a inovação aqui.
Como a incubadora auxiliará os estudantes?
Uma das nossas ideias é que, no começo, ela funcione como uma pré-incubação, priorizando nossos alunos, o que não quer dizer que projeto externos não possam participar do edital e serem incubados também. O que podemos fazer para que esses alunos sejam incubados? Temos que ter alguns projetos para sensibilizar nosso corpo discente, para que eles possam desenvolver as ideais dentro da incubadora. Um dos caminhos é esse. Por exemplo, na área de empreendedorismo, podemos estimular eles a desenvolverem ideias que gerem projetos. Precisamos estimular isso neles.