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Entrevista

Edilene Oliveira

Professora de Administração, atualmente diretora do Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância (Cread)
publicado: 22/09/2015 12h22 última modificação: 03/03/2016 09h10
Ascom/IFMS

Aos 40 anos de idade, Edilene Maria de Oliveira escolheu encerrar sua longa carreira na área de vendas e marketing para se tornar professora. Após se apaixonar pela docência, numa manhã de domingo ouviu falar sobre o concurso do IFMS, e resolveu tentar a vaga, prestando seu primeiro concurso público.

A partir de então, desde 2011, ela ajuda a construir a história da educação a distância em nossa instituição.

Na entrevista abaixo, Edilene conta como foi sua infância como filha de militar, revela os desafios que a EAD ainda enfrenta e compartilha seu amor por viagem e por gente, além de dividir o que espera para o futuro do IFMS.

Confira o bate-papo com a bem humorada professora Edilene, atualmente diretora do Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância (Cread).

Vamos começar falando sobre onde nasceu, onde você foi criada?

Eu nasci em Ponta Grossa, no Paraná, mas não sou do Paraná, sou do Brasil. Moramos em cidades do Paraná, em Goiás, e acabei parando em Mato Grosso do Sul, em Campo Grande. O maior tempo da minha vida foi passado aqui, tanto é que eu esqueço que sou paranaense, que sou ponta-grossense. Quando me perguntam, sempre falo que sou campo-grandense, sul-mato-grossense. Já estou aqui há mais de 30 anos. Sou apaixonada por Mato Grosso do Sul!

Como foi a sua infância?

A minha infância pode ser chamada de infância mesmo, com muita brincadeira, porque na minha época não existia computador, assistia televisão só nos finais de semana e à noite, e ainda em preto e branco. As nossas brincadeiras eram na rua, uma coisa muito gostosa, apaixonante, mas não tinha muitos vínculos, por que quando construía os vínculos, eu mudava de cidade. Já começava em uma outra escola, com novos amigos. Alguns amigos eu consegui manter, mas são poucos. Filho de militar é assim: você tá num canto, depois está em outro, depois vai pra outro... Mas foi muito boa a minha infância.

Você é formada em Serviço Social e Administração. Como entrou na área da educação?

Quando vim para Mato Grosso do Sul, comecei a fazer o antigo magistério, mas nunca me vi professora. Depois, por influência de uma prima, fui fazer serviço social. Eu entrei com 17 anos na faculdade, me formei com 21, então eu não sabia muito bem o que queria. O serviço social foi uma base pessoal, mas nunca atuei na área como assistente social.

Quando me formei, entrei na área de vendas e marketing, onde atuei a minha vida inteira. Comecei com anúncios em listas telefônicas. Trabalhei com publicidade muito tempo, também com vendas de livros, trabalhei na área de marketing. Depois montei uma empresa de representação comercial e parti para a área de cosméticos. É uma área fantástica.

Há 13 anos, por ter trabalhado em grandes empresas, fui convidada a dar um curso livre na Faculdade Estácio de Sá, de Marketing para a Gestão de Negócios. Era um curso de final de ano. Foi apaixonante, foi muito fácil pra mim, já que eu trabalhava diretamente ligada aos vendedores. O que eu fiz foi passar, em sala de aula, uma realidade do que acontece em grandes empresas. Todo mundo adorou e eu não sabia o porquê tinham gostado.

Por causa disso, fui convidada a assumir disciplinas na área de marketing na Estácio. Comecei com uma disciplina, depois duas, três e quatro... Acabei ministrando a parte de marketing inteira. Só que que pra mim a parte prática era muito fácil, mas cadê o fundamento? Aí eu comecei a estudar muito, pra conseguir aliar aquela teoria que eu não tinha à prática. Apesar de não ser exigida de mim a graduação na área, eu decidi fazer o curso de Administração, que terminei em 2010.

Quando foi que você começou a atuar na educação a distância?

Comecei em 2009, quando fui trabalhar na Uniderp. Antes disso, eu havia tido contato com a educação a distância como aluna, não como professora. Me apaixonei pela EAD! Fui professora de vídeo, professora conteudista, peguei uma tutoria para saber como era tutoria a distância. Nessa época, tive o primeiro contato como assistente social, quando fui dar aula no curso de serviço social e também administrar o estágio de serviço social. Eram mais de cinco mil alunos!

De onde vem essa paixão pela EAD?

Achei tão interessante poder chegar a um local que ninguém chegava! Você receber e-mail de alunos te dando depoimentos que te fazem chorar. É apaixonante saber que as pessoas podem adquirir conhecimentos utilizando ferramentas tecnológicas.

Como o IFMS entrou na sua vida?

Em 2011, num domingo de manhã, enquanto tomava meu cafezinho, vi no jornal que teria um concurso do IFMS. Tinha uma vaga pra professor de administração. Nunca esperei que fosse passar. Pensei "vou tentar pra ver como é que é fazer um concurso público", já que eu nunca tinha feito. Fiz e passei em primeiro lugar.

Achei que ia esperar muito tempo, mas o concurso foi em março ou abril, e em junho já assumi.

Quando entrou aqui, sabia o que era educação profissional e tecnológica?

Quando fui chamada para a posse, busquei saber o que era o Instituto Federal. Foi quando eu descobri o que era, de onde veio, mas nem sabia que tinha educação a distância aqui. Na época, o professor Marcus [Aurélius Stier Serpe, reitor do IFMS na ocasião] mostrou que estava começando a educação a distancia e que precisaria de contribuições. Na hora em que eu estava assinando o termo de posse, falei para ele que gostaria muito de contribuir com a EAD, porque já trabalhava com isso e era uma das minhas paixões. Na mesma hora, ele falou para a professora Marcelina [Maschio, pró-reitora de Ensino e Pós-Graduação do IFMS] que eu iria começar na EAD. Dito e feito, uma semana depois eu comecei na educação a distância.

Como foi esse começo?

Quase morri! Porque eu tinha uma experiência como professora e tutora, mas uma coisa é fazer aquilo, outra coisa é fazer aqui, começar algo. Sofri e sofro até hoje. Tinha dúvidas e tenho até hoje, é tudo muito novo. Ainda bem que há pessoas maravilhosas trabalhando com a gente, que vestem a camisa. Era uma loucura, nós éramos em três servidoras. Muito trabalho, mas gente com muita boa vontade.

A cada dia a gente tem que aprender um pouco, muda-se tudo o tempo todo, é tecnologia pura, e você tem que tentar estar por dentro dos processos, sendo que a minha geração não é tecnológica. Acho que a gente sofre até mais.

No início, a oferta era feita em parceria com o Instituto Federal do Paraná, o IFPR. O que mudou, como funciona hoje?

Mudou muita coisa. As parcerias com o Paraná foram excelentes, nós tivemos cursos maravilhosos. Trabalhávamos bastante, mas a responsabilidade do IFMS era a de ter um tutor e na transmissão da aula. Toda a parte pedagógica, didática, de conteúdo, era feita pelo IFPR, então nós não tínhamos a necessidade de ter professores, tutores, coordenadores de curso. Toda a parte pesada era feita por eles.

Após alguns problemas, partimos para ter os nossos próprios cursos. Na época, já tínhamos três cursos do IFMS mesmo, que é o Manutenção e Suporte em Informática, Automação Industrial e Edificações, ofertávamos há três anos, com metodologia nossa, utilizando o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Já tínhamos os professores, só que eram cursos pequenos, eram só três cursos ofertados em quatro ou cinco municípios.

A partir do momento que nós assumimos os cursos de Serviços Públicos e Administração, começamos a gravar as aulas também. São cursos que atendem a vários municípios e não só aos câmpus, o que aumentou muito as nossas atividades.

Então agora tudo é feito aqui?

Tudo é feito aqui. Toda a parte que o IFPR fazia agora é feito aqui, inclusive os dois cursos que nós ainda ofertamos em parceria, Transações Imobiliárias e Agente Comunitário de Saúde, a única coisa que nós ocupamos do Paraná são as aulas, toda a parte de coordenadores de cursos, elaboração das atividades, a postagem do material, tudo é feito por nós. Hoje nós trabalhamos independentes.

O que muda com a criação do Centro de Referência em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância, o Cread?

Ele foi criado não só para atender as demandas da educação a distância, mas pra atender as demandas de uma capacitação de servidores, por exemplo. Todas as demandas do IFMS que possam vir a ser feitas a distância vão ser atendidas pelo Cread.

Como é feita a escolha dos cursos?

O interessante seria se nós pudéssemos atender às demandas de todos os municípios, mas hoje ainda não podemos fazer isso, então temos um leque de cursos que colocamos à disposição dos câmpus. Três, quatro meses antes de iniciar um novo ano, cada câmpus vai até a prefeitura do respectivo muncípio e verifica se os cursos que nós temos pra oferecer são interessantes, então cada município acaba tendo uma oferta para atender à demanda local.

Como é gerenciar, coordenar cursos ofertados a tantos estudantes em vários lugares?

Não é fácil. Para que a gente possa gerenciar, precisamos ter braços em cada local. O que foi muito bem feito, desde o início, foi ter um coordenador EAD em cada câmpus, uma pessoa que nos ajuda, nos passa as necessidades e problemas, e a gente tem que resolver por aqui. Cada curso também tem o coordenador específico da área. O meu contato acaba sendo com os coordenadores de curso, coordenadores pedagógicos. Nós temos muitos bolsistas trabalhando também. No ano passado, nós estávamos com 130 bolsistas que trabalhavam como professores, tutores e coordenadores.

Esses bolsistas são pagos pela Rede e-Tec Brasil. Poderia explicar um pouco sobre isso?

A educação a distância nos Institutos Federais, como nas universidades, não é institucionalizada, então existem programas do governo federal que bancam os profissionais para podermos fazer com que a EAD aconteça. No caso, o e-Tec disponibiliza o pagamento da bolsa dos professores, dos tutores e coordenadores. Toda a estrutura é realizada por meio de bolsistas.

O sonho é que a EAD seja institucionalizada?

Isso, que nós tenhamos professores que possam estar tanto na educação a distância quanto na presencial, só que a gente sabe que o perfil do professor é um pouco diferente. A EAD tem cronogramas rígidos a cumprir, o professor não está na frente do estudante, ele tem que fazer uso da tecnologia, vai ter que tentar sanar todas as dúvidas do estudante na aula ou fazer atividades bem elaboradas, além de ter o tutor lá na ponta pra desenvolver as atividades que ele prepara. O professor deve ter essa capacidade de entender que tem um aluno lá atrás daquele computador, que tem que compreender e construir o conhecimento sobre aquilo que ele coloca.

Hoje, os professores EAD com certeza foram um dia professores presenciais, então é só uma questão de adaptação.

O que você espera para o futuro da EAD no IFMS?

Esperamos crescer bastante, só que sabemos que é um momento complicado economicamente. Se você me perguntar o que espero, é que se tenham verbas para a educação a distância. A EAD é propulsora do desenvolvimento local, o Instituto Federal podendo chegar a todas as localidades para beneficiar não só o estado ou o município, mas o Brasil.

A educação a distância é presente e futuro. A gente não quer que uma criança hoje, que nasce tecnologicamente desenvolvida, fique sentada em uma sala de aula. Acho que não tem como voltar atrás. Não que o ensino presencial vai acabar, porque não vai mesmo, mas grande parte das atividades já são mediadas pelas tecnologias, então não tem retorno isso.

A gente falou muito da educação a distância. É um ensino que chega a tantos lugares que talvez não chegaria... O que você acha que muda na vida deste estudante?

Eu acho que muda tudo, porque a gente sabe que existe um vácuo na educação profissional, no país todo. Nós temos muitos graduados, mas nos falta a parte técnica. O Instituto atende aquele município, colabora para que aquele profissional seja formado ali. Que ele não precise ir pra outra cidade pra conseguir um certificado, porque acaba não voltando para seu município. Conseguindo chegar ali, o IFMS acaba sendo propulsor do desenvolvimento local, com certeza, porque está formando profissional nesta localidade e esta localidade tem demanda pra esse profissional, fazendo com que seu município também se desenvolva. E o desenvolvimento só acontece por meio da educação.

Pra você, o que significa ser servidora pública?

É a primeira vez, nunca fui servidora pública antes, então é um grande desafio. Eu venho de grandes empresas, até então trabalhei em multinacionais em que, se você quisesse adquirir alguma coisa, era bem rápido. Estou aprendendo a lidar com isso, porque no serviço público há muitos procedimentos a serem cumpridos, mas estou gostando muito.

Acho que o Instituto vai crescer muito e atender um público que realmente precisa. Espero que as pessoas nos conheçam mais e que nos procurem mais, porque é uma chance de terem uma educação de qualidade, principalmente no ensino médio, que faz diferença na vida desse estudante. Eu acho que nós, como servidores públicos, temos que dar uma resposta pra sociedade em forma de atividades de qualidade, porque nós somos pagos por essa sociedade, nada mais justo do que corresponder a isso.

A senhora já sofreu algum tipo de preconceito por ser mulher?

Por incrível que pareça, já! Mas eu não me deixo abater. Não foi aqui, foi numa multinacional, a maior empresa do mundo de cosméticos, em que eu trabalhava como representante comercial. Isso foi em 1998. Eu estava como representante comercial nessa empresa, conquistei mercado, e essas multinacionais te transformam em vendedores depois que vocês faz o mercado.

Foi a minha maior decepção, porque me disseram "a partir de agora, se você quiser ser vendedora aqui, o salário é tal", só que o valor era 50% menor do que os meus colegas recebiam. Nessa empresa, eu fui a primeira mulher a ser contratada nessa área. Nós éramos 72 representantes no Brasil e eu era a única mulher! E eles me oferecem 50% a menos! Isso acabou comigo, é obvio que eu saí da empresa. Depois disso, recebi a ligação do presidente da empresa, pedindo para eu não sair, que não sabia o que tinha acontecido. Só que eu já tinha arrumado outro emprego. Eu acho que é o único preconceito que me abalou psicologicamente.

Acha que isso mudou?

Sei que pelo menos nessa empresa mudou, porque hoje o maior número de representantes são mulheres! E fui eu que comecei com isso.

A senhora tem algum sonho que deseja realizar ainda?

Profissionalmente, eu gosto do que faço, escolhi ser professora depois dos 40 anos, então foi uma escolha minha, acho que isso é um sonho que eu estou realizando. Larguei as minhas vendas, fechei minha empresa de representação comercial para trabalhar com educação. Não é por dinheiro, porque eu ganhava muito mais com vendas.

Agora um sonho que eu tenho é conhecer mais lugares no mundo. Eu gosto demais.

Já me falaram que você gosta de viajar, é verdade? O que mais gosta de fazer no tempo livre?

Eu amo viajar! Amo conhecer novas culturas, novas comidas, novas pessoas... Viajo bastante, conheço uns 12, 13 países. Também gosto de dança de salão, de cinema, de ler, adoro me reunir na casa de amigos, é muito gostoso.

Eu gosto de gente, trabalhei sempre com gente. A educação também é isso, você gostar do ser humano e de gente. Então, dentro daqui e fora daqui, eu adoro gente!

O que o Instituto representa na sua vida?

Tenho o maior orgulho de trabalhar no IFMS. Essa sim é a consolidação de um sonho. Realmente me apaixonei pela docência. Acho que isso tudo foi a realização de um sonho, trabalhar numa instituição federal, eu não imaginei que fosse possível. Ano passado, nós fizemos um curso de docência aqui, foi maravilhoso. É um eterno aprendizado.

O que deseja para o futuro do IFMS?

Eu espero que o Instituto se solidifique, que todos pensem em prol de uma coisa só, que é fortalecer a educação. Espero termos estudantes realmente formados, capacitados. Espero uma união maior do Instituto e que a gente vá sempre em frente, porque serviço sempre tem.

Depois que você conhece a educação profissional, vê que é uma coisa muito bonita, interessante e necessária. Que esse Instituto cresça cada vez mais, finque seus pés no chão do Mato Grosso do Sul e não saia nunca mais!

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Assunto(s): Professor