Entrevista
Jane Amaral
Em 2010, quando ficou sabendo do concurso do IFMS por uma amiga, Jane Amaral buscava uma vida melhor. Trabalhando há sete anos na Secretaria de Receita de Campo Grande, ela contribuía com a renda familiar desde a separação de seus pais.
Mesmo formada em educação física, na época acabou optando por tentar uma vaga como auxiliar em administração – cargo para aqueles que possuem o ensino fundamental –, pois o conteúdo programático da prova parecia ser mais fácil.
Em 2011, Jane recebeu o telefonema que mudaria sua vida. A partir daí, a trajetória dessa servidora do IFMS incluiu uma breve passagem pela Pró-Reitoria de Ensino (Proen), Gabinete da reitoria, Ouvidoria e, atualmente, Pró-Reitoria de Extensão e Relações Institucionais (Proex). A servidora também é membro da Comissão de Ética do Instituto.
Nesse meio tempo, ela concluiu o curso técnico em administração, ofertado pelo IFMS na modalidade a distância, e atualmente está finalizando a pós-graduação em Gestão Pública.
Conhecida por seu bom humor, Jane conta a seguir um pouco do seu trabalho no IFMS, do seu sentimento de ser servidora pública e do que deseja para o futuro da nossa instituição. Sempre com otimismo.
Confira esse bate-papo emocionante.
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Vamos começar falando um pouco sobre você, Jane. Conte um pouco da sua vida pra gente.
Bom, eu nasci em 1980, em São José dos Campos, interior de São Paulo. Também morei em Santos e em São Paulo. De lá, vim com minha família pra Campo Grande. Já faz uns 20 anos que nós estamos aqui.
Na época você tinha então uns 14, 15 anos?
É, uns 15 anos. Quando morávamos em Santos, toda tarde descíamos pra praia, sem preocupação. Todo mundo era feliz. Então viemos pra cá, e aqui não tinha praia, mas tem corgo [risos]. Estudei aqui desde o ensino médio.
Fez faculdade em Campo Grande?
Sim. Fiz licenciatura em Educação Física, me formei em 2004 pela UFMS. Foi legal porque nosso curso não teve nenhuma desistência, a turma inteira formou. Ganhamos um carro numa gincana de uma rádio. Vendemos e usamos o dinheiro para a formatura. Foi uma época boa.
Por que você fez Educação Física?
Eu estava entre Educação Física e Direito. Eu queria que alguém me falasse qual curso fazer. Um exemplo: “Pai, eu tô pensando em fazer Educação Física!”, “Parabéns, minha filha. A gente vai abrir uma academia pra você!” Aí no outro dia: “Pai, tô querendo fazer Direito!” “Parabéns, minha filha, a gente vai abrir um escritório”. Mas isso não aconteceu, então fiz um teste vocacional. O resultado me deu uma série de opções, desde Arquitetura, Engenharia, tudo, menos Educação Física. Aí me disseram que o teste não contemplava Educação Física! Saí de lá mais confusa, mas acabei fazendo Educação Física assim mesmo.
Você se arrepende?
Não. Eu indico Educação Física pra todo mundo. Independente de trabalhar na área ou não, você se desenvolve como ser humano. As vivências que eu tive lá me modificaram, me ajudaram como pessoa.
Depois da formatura, como foi sua vida profissional?
Eu lecionei por um ano, dava aula de natação e dança numa escola particular. Era uma vida muito "difícil" porque quando eu não estava nadando, eu estava dançando! E ganhava por aula. Aí os meus pais se separaram. Nessa época, eu optei por um trabalho com valor fixo. Foi quando surgiu a oportunidade de trabalhar na Secretaria de Receita do município. Fiquei sete anos lá, trabalhando na divisão de arrecadação. Eu mexia mais especificamente com os contribuintes que moravam fora de Campo Grande. Foi lá também que eu conheci a Kelly [Silveira, atual coordenadora de Administração de Pessoal do IFMS].
Como você ficou sabendo do concurso pro Instituto?
Prestei o concurso em 2010. Eu fiquei sabendo por uma amiga. Mas eu não queria fazer porque não estava dando conta de estudar. Ela sugeriu que a gente fizesse o de auxiliar, porque a diferença salarial era pouca e a matéria pra estudar era menor. Eu fiz por causa dela mesmo. Mas não deu nem pra estudar. Fomos fazer a prova... eu passei e ela não!
E o que você sentiu quando descobriu que iria trabalhar aqui?
Foi ótimo! Primeiro, a Kelly, que trabalhava comigo na prefeitura, passou no mesmo concurso, mas para o cargo de assistente. Ela falou assim: “Jane, me chamaram! Um dia eu vou ligar pra você te chamando também, você vai ver!”. Eu não acreditei. Porque tinha passado em décimo quinto lugar, achei que não me chamariam, e que a Kelly estava sendo gentil comigo.
E a premonição dela aconteceu?
Sim! Foi ela que me ligou! Eu estava trabalhando. O telefone tocou e era a Kelly: “Jane, você lembra que eu prometi que ia te ligar pra te chamar? Então, tô te chamando! Você tem que trazer uns documentos aqui...”. Eu fiquei feliz! Liguei pra minha mãe, ela chorava do lado de lá e eu chorava do lado de cá.
E como foi o seu começo no IFMS?
Eu entrei aqui em novembro de 2011. Fui para a Proen trabalhar na parte de recepção e protocolo. Em dezembro, me chamaram para trabalhar no protocolo do gabinete. Em janeiro começaram a me preparar psicologicamente porque a Ana Gabriela [secretária de gabinete na época] ia entrar de férias e, em seguida, licença maternidade.
Então em três meses no IFMS você já virou secretária do gabinete? Como foi essa experiência?
Foi uma experiência interessante. Éramos só três servidoras. Todo mundo me ajudou. Conheci os diretores, os pró-reitores... Todos entendiam a minha limitação e tinham prazer em me ajudar, de uma maneira maravilhosa. Não tive nenhum problema nesse sentido. Algumas pessoas tinham uma imagem negativa da reitoria, mas lá trabalhávamos muito e éramos uma família. Na parte da frente dava pra ouvir as risadas lá no fundo, nem sabíamos o que era, mas ríamos só por causa das risadas. Foi muito gostoso, uma época que eu sinto falta hoje.
Ter trabalhado em vários setores te ajuda a ver a instituição de uma forma diferente, a enxergar o todo?
O fato de ter trabalhado no gabinete me dá um leque de informações e enriquece a maneira como lido com as situações. O trabalho no gabinete também me ajudou muito a ter acesso a vários setores. Isso contribuiu para o desenvolvimento dos trabalhos na Ouvidoria, por ser um canal de intermediação. Na Proex, a gente está em fase de construção, de elaboração, então sempre tento ajudar da melhor maneira possível.
Você é membro titular da Comissão de Ética. Como é esse trabalho?
A minha função como titular começou neste ano. O trabalho da Comissão é delicado. Você tem que tomar cuidado com as palavras que são utilizadas, as orientações dadas, as condutas das pessoas. Às vezes, uma situação, em si, não é um problema, mas sim o contexto em que ela está inserida. Você tem que ter muita sensibilidade e muito carinho pra tratar com cada demanda.
Sete anos na prefeitura e quatro aqui no Instituto. Já são onze anos da sua vida no serviço público. Como você se sente como servidora pública?
O trabalho do serviço público é gratificante. A pessoa chega com uma demanda e você tem a informação pra passar, é gostoso trabalhar assim. No Instituto, quem trabalha no atendimento direto propriamente dito são os câmpus, ou seja, nós aqui na reitoria ajudamos de forma indireta. Hoje o Instituto cresce e transforma milhares de famílias. Tendo essa visão de onde o Instituto está e a pretensão que ele almeja, eu me sinto no lugar certo, na hora certa.
Na reitoria, você é conhecida pelo seu bom astral. Da onde vem essa alegria? O que te motiva?
Acho que a gente vem adquirindo com as demandas... mas nós não somos de ferro. Eu sou sinestésica. Eu preciso falar. Às vezes vem uma situação ou uma afronta e só o fato de você compartilhar, desabafar, te dá outro ânimo. Eu também preciso de um tempo comigo mesma, sozinha. Percebo que, quando eu não me dou esse tempo, fico mais intolerante com as situações. É o tempo que eu tiro pra meditação, que eu vou orar, ler a Bíblia. Pra não pecar, como diria [risos].
O que você espera para o seu futuro?
Daqui a dois anos, eu estou me programando pra fazer Direito. Quando eu ganhar um pouco melhor, também quero fazer aula de bateria!
O que o Instituto representa pra você hoje?
O Instituto é parte integrante da minha vida. Já ouvi frases do tipo: “O servidor tem vida depois do Instituto”. Tem sim, tem vida fora do Instituto, mas eu faço daqui também a minha vida. Sei que aqui tem problemas, toda repartição tem, mas é um prazer muito grande trabalhar no IFMS, e eu me realizo com o que faço hoje. A convivência que eu tenho com os servidores, as amizades e as experiências que nós desenvolvemos aqui... É uma parte da minha vida.
E o que você vê para o futuro da instituição? Porque você está aqui há alguns anos, ajudou a implantar a Ouvidoria, é da época que o gabinete era bem pequeno, ou seja, vem acompanhando esse crescimento de quatro anos pra cá.
No meu primeiro ano aqui, eu ouvia falar em eleição, em entrega de câmpus, em concurso público para novos servidores e em formatura... Ouvia uma série de coisas que iam ser concluídas e que, na minha visão, eram distantes. Agora, quando eu vi o professor Simão entrar na sala e dizer “esse aqui é meu programa de candidato, meus projetos pra instituição. Vote no Simão para reitor”, aquilo me encheu de uma alegria tão grande, porque é o fruto de um trabalho de todo mundo. Eram coisas distantes e hoje a gente vê se realizando. Eu vejo servidor novo, que eu nem conheço, e antes a gente sabia o nome de todo mundo! O Instituto tá num momento ímpar. Acredito que tem tudo pra dar certo, porque há pessoas comprometidas, que querem fazer o certo e, se erram, é tentando acertar. Sinto orgulho de ver o resultado de hoje e de ter participado e presenciado algumas decisões que contribuíram para o que o IFMS é hoje.