ENTREVISTA
Pedro Fonseca Camargo
Não seria exagero dizer que o professor Pedro Fonseca Camargo já rodou o Brasil. De todas as regiões do país, só não morou ou trabalhou no Sul. Natural de São Gonçalo (RJ), chegou ao Campus Nova Andradina do IFMS (Instituto Federal de Mato Grosso do Sul) em 2015 para sua terceira experiência como docente da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, depois de passar pelo IFRN (Instituto Federal do Rio Grande do Norte) e pelo IFAM (Instituto Federal do Amazonas).
Antes de concluir a formação secundarista, Pedro abandonou os estudos para atuar no ramo comercial. Foi quando adquiriu experiência como empreendedor trabalhando com administração educacional em escolas de idiomas. Só retornou aos bancos escolares mais de uma década depois para terminar ensino médio e cursar graduação e especialização em Natal (RN), cidade onde foi viver desde que deixou o Rio de Janeiro.
Bacharel em Administração com habilitação em Marketing pela Faculdade Câmara Cascudo e especialista em Docência no Ensino Superior pela UNP (Universidade Potiguar), Pedro ministra disciplinas voltadas a administração, empreendedorismo e gestão nos cursos técnicos integrados e de graduação ofertados no Campus Nova Andradina.
Desde que chegou ao IFMS, o professor acompanha a implantação da Finova (Fundação Instituto de Tecnologia e Inovação de Nova Andradina), principalmente no que diz respeito à estruturação do Probatec (Programa de Desenvolvimento Sustentável de Base Tecnológica e de Inovação), na área de Agronegócio.
Nesse bate-papo, Pedro falou sobre sua trajetória pessoal, profissional e a participação do IFMS na Finova.
Como foi a opção pela Administração? Teve a ver com sua atuação no ramo empresarial em escolas de idiomas?
Faltava só um ano para eu completar o antigo segundo grau e tive que tomar uma decisão. Fazer com que a empresa crescesse e se desenvolvesse ou voltar para os bancos escolares. Como minha esposa também participava do negócio, envolvida com o ensino de idiomas, estabelecemos que ela faria a faculdade, pois já havia passado no vestibular de Letras, uma vez que eu ainda teria que terminar o segundo grau. Então, me dediquei à parte comercial da empresa. Só fui concluir o segundo grau em 2003, quase 11 anos depois de casado.
Entrei em uma universidade para cursar Administração. Foi muito bom para mim, pois agregou bastante ao conhecimento empírico que eu já possuía. Foi quando iniciei algumas atividades como, por exemplo, criar plano de cargos e salários para os meus funcionários. Também me preocupei em melhorar a empresa. Nessa época, começamos a expandir o número de escolas.
E a entrada para a docência, como foi?
Concluí a faculdade em 2009 e fiquei pensando: e agora, o que eu faço? O que me levou a ser professor foi que durante uma disciplina fiquei sabendo de um concurso para o Instituto Federal do Rio Grande do Norte para professor na área de Marketing. Acabei fazendo como teste e passei em 5o lugar na prova escrita. Não passei na prova didática, mesmo assim fiquei melhor colocado que um professor meu, o que me deixou orgulhoso.
Logo na sequência, fiz outra prova para professor substituto no interior do Rio Grande do Norte, em Currais Novos. Passei e estavam precisando de professor em Natal, onde eu morava. Então fui chamado. Nessa mesma época tive alguns problemas com as franqueadoras com as quais trabalhava no ensino de idiomas. Comecei a dar aula e gostei. Pensei: bem, estou entrando em um novo mercado e para isso preciso conhecê-lo. Então, fiz minha matrícula em uma especialização em Docência para Ensino Superior. Gostei da área e passei a me apropriar desses conhecimentos do mercado no qual eu estava entrando. E descobri que era isso mesmo que eu queria.
Então, você não imaginava que se tornaria professor um dia?
Jamais imaginei ser professor. Até então eu trabalhava com educação, mas na parte administrativa. Eu não esperava, embora tivesse tido algumas experiências na minha vida com liderança. Foi interessante essa nova roupagem na minha carreira, porque me deu a possibilidade de ousar. Como professor você tem essa liberdade. Pela minha trajetória comercial e empresarial, como administrador, eu tive a oportunidade de dar ideias e orientações, ajudando os alunos a ampliar a visão deles sobre os negócios. Minha experiência empresarial me ajudou muito na carreira como professor.
E a entrada para a Rede Federal como foi?
Uma das coisas que me encantou no IFRN, em termos organizacionais, foi que os professores lá eram livres para criar, fazer projetos. Essa liberdade, eu apreciava muito. Dentro das disciplinas que eu ministrei sempre trabalhei com projetos e atividades que os estudantes pudessem desenvolver para o mercado.
Dali em diante tracei uma meta: vou me tornar professor efetivo da Rede Federal! Saí monitorando todos os concursos, fiz alguns, passei, mas devido a erros que cometi na prova didática, não obtive êxito. Até que fui convocado para um que fiz no Instituto Federal do Amazonas (IFAM), sendo chamado para o Campus Lábrea.
Como foi seu período lá?
Foi uma experiência diferente. Costumo dizer que o Amazonas é outro país. Gostei muito de trabalhar no IFAM, pois pude conhecer as pessoas de lá. Existem muitas dificuldades, principalmente no que diz respeito ao acesso, já que quase não existem estradas. O campus onde eu estava, por exemplo, fica no final da Rodovia Transamazônica. Lábrea está mais perto de Rondônia do que de Manaus. Foi uma experiência gratificante, pois comecei a dar aulas no ensino médio, o que para mim foi algo diferente. Também lecionei no Pronatec e no Mulheres Mil, onde puder conhecer a realidade de alunas que, mesmo em situação de risco, buscavam conhecimentos para se elevar, tentar melhorar seu nível de vida.
Depois de dois anos morando separado da família, em hotel, minha esposa foi aprovada para professora substituta no Campus Humaitá, uma cidade que ficava mais próxima, a 200 quilômetros. A distância diminuiu, mas o deslocamento ainda era um problema. Ou eu pegava um avião, entre Lábrea – Porto Velho – Humaitá, ou ia de moto. Às vezes, durante o período de chuvas intensas, eu levava até dois dias para cruzar os 200 quilômetros, mesmo estando em uma moto toda preparada para as condições da estrada. Mesmo assim, posso dizer que foi gratificante.
Por que você escolheu o IFMS posteriormente?
O concurso que eu havia feito aqui foi em 2011, antes de eu ir para o Amazonas. Originalmente, o concurso era para Aquidauana. Depois disso, eu não havia tido mais contato com o IFMS. Um dia resolvi acessar a página da instituição, pois estava querendo me mudar em virtude das dificuldades de acesso e li a respeito da chamada pública, oferecendo vagas em Nova Andradina e Coxim. Nunca tinha escutado nada a respeito dessas duas cidades. Coloquei Nova Andradina como primeira opção e fiquei torcendo.
Você tem participado das discussões sobre a Finova, a Fundação Instituto de Tecnologia e Inovação de Nova Andradina. Como tem sido essa experiência?
Pouco tempo depois de chegar aqui tomei conhecimento do projeto sobre a criação da fundação. Comecei a me apropriar das informações sobre o processo de incubação. Como tive experiência com incubadoras no Rio Grande do Norte, as pessoas envolvidas entenderam que eu poderia colaborar. Durante esse período, recebi algumas capacitações da Anprotec [Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores]. Por ter participado desses cursos e ter contribuído para a implantação de uma incubadora no IFRN, resolveram me dar essa oportunidade.
Já selecionamos sete projetos para trabalhar a pré-incubação aqui no Campus Nova Andradina. Também já criamos o plano de negócios da incubadora. Temos um espaço rural, no campus, e outro urbano, que funciona dentro da Finova. Estamos trabalhando no momento a pré-incubação, onde selecionamos projetos e ideias inovadoras que estão sendo tratadas para culminar na incubação propriamente dita, que levará ao desenvolvimento desses projetos.
A incubadora é um ambiente em que o empreendedor em perspectiva tem a oportunidade de ter acesso à tecnologia, à técnica, ao assessoramento, além de criar uma rede de relacionamento e ser apresentado a investidores, ajudando no desenvolvimento da sua ideia inovadora. A dificuldade que o empreendedor tem é encontrar parceiros que possam ajudá-lo a desenvolver sua ideia e transformá-la em negócio. A incubadora está aqui para fazer essas conexões.
De que maneira você acredita que sua experiência como empreendedor pode ajudar no desenvolvimento da incubadora?
Creio que por conta das experiências que tive, tanto as positivas quanto as negativas, posso auxiliar esses empreendimentos que surgirão aqui a criar conexões com o mercado. A ideia é que os alunos que estão na incubadora façam uma pesquisa para descobrir o potencial do mercado, dentro de cada projeto, para que possamos começar a criar a modelagem desses negócios. Ele [participante da pré-incubação] precisa identificar esse potencial do mercado e desenvolvê-lo.