Você está aqui: Página Inicial > Perfil do Servidor > Rafael Renato Gazoni Moreira

ENTREVISTA

Rafael Renato Gazoni Moreira

Auxiliar em administração lotado na Pró-Reitoria de Extensão
por Juliana Aragão publicado: 30/08/2016 16h10 última modificação: 30/08/2016 16h01

Pelo menos no ambiente de trabalho, Rafael Renato Gazoni Moreira, 28 anos, é daquelas pessoas extremamente reservadas, de pouquíssimas palavras. Natural de uma pequena cidade do Paraná, mudou-se com a família para a capital de Mato Grosso do Sul quando tinha apenas quatro anos. Foi aqui que fez todas as traquinagens comuns de uma criança e começou a escrever sua história de vida.

Com energia de sobra e apaixonado por esportes, Rafael começou a lutar judô aos 15 anos de idade. E não é que deu certo! O jovem tímido é faixa preta e chegou a representar o Brasil no mundial por equipes em 2005.

Formado em Ciência da Computação, Rafael ingressou no IFMS em 2011 como auxiliar em administração. Passou pela Diretoria de Gestão da Tecnologia da Informação (Dirti) e, desde o final de 2014, atua na Coordenação de Inclusão e Diversidade, ligada à Pró-Reitoria de Extensão (Proex).

Em 2008, Rafael recebeu uma notícia que pode ser comparada a um presente da vida. Ficou curioso pra saber o que foi? Então, leia a entrevista até o fim e entenda ainda porque a trajetória desse servidor do IFMS pode ser encarada como algo desafiador.

Rafael, onde você nasceu?

Eu nasci em Capanema, no Paraná.

Você passou a infância lá ou já aqui em Mato Grosso do Sul?

Não, primeiro minha família se mudou para Mato Grosso, para outra cidade pequena. Depois, viemos para Campo Grande, quando eu tinha quatro anos.

Você foi um menino arteiro na infância, Rafael?

Fui um pouquinho arteiro, sim.

Pode contar pra gente alguma arte?

Ah, daquelas artes comuns de criança, daquelas de subir em árvore. Mas, acho que a mais bagunceira mesmo foi o dia que eu derrubei um fogão.

Você derrubou um fogão? Mas, chegou a cair em cima de você?

Não, porque eu saí da frente.

Mas, levou uma bronca do pai e da mãe?

Um pouco, mas assim... com quatro ou cinco anos, às vezes os pais até se aliviam mais por a criança não ter se machucado do que pensam em dar a bronca.

Com 15 anos, querendo fazer muita arte, você acabou entrando no judô. Como foi essa história?

Na época, eu jogava futebol e o treinador da equipe que eu jogava falou do interesse de um sensei em começar um projeto. Como ele sabia que eu gostava de esportes, perguntou se eu estava interessado.

E aí, você começou a treinar e, inclusive, participou de campeonatos importantes, né? Que campeonatos foram esses?Inclusive você foi medalhista...

Sim, eu consegui disputar alguns grand prix nacionais, cheguei a disputar o parapan-americano sub 21 e o mundial por equipes.

No caso, com a seleção brasileira?

Sim.

Vocês conseguiram uma medalha de quê?

Conseguimos uma medalha de bronze.

O que o judô trouxe de bom, de positivo pra sua vida?  O que você aprendeu com esse esporte?

O judô é um esporte muito bom. Às vezes, o pessoal vê uma arte marcial e encara muito como uma coisa violenta. Não, o judô tem toda uma filosofia por trás. Você aprende questão de respeito, aprende questão de hierarquia, tem muito disso.

Fora o condicionamento físico?

Sim, fora o condicionamento físico.

Em 2007, você resolveu fazer uma faculdade...

Sim.

O que você foi estudar?

Fui estudar Ciência da Computação.

Por que, Rafael?

Eu sempre gostei de tecnologia, desde pequeno. Queria fazer um curso que tivesse nessa área, um curso que fosse ligado à informática, e Ciência da Computação foi, na época, o que me pareceu mais completo.

No ano seguinte, uma grande surpresa né? 2008 foi um ano importante na sua vida?

Sim.

Foi o ano que você ganhou sua filha, a Emily?

Na realidade, ela nasceu mesmo em 2009. Nasceu em junho de 2009, mas em 2008 já se soube que ela viria.

Como é sua relação com a Emily? Ela está com sete anos, é isso?

Sim, atualmente ela está com sete anos. Ela é uma criança muito tranquila, uma criança que ajuda bastante, nós temos uma relação muita próxima.

E o que a vinda da Emily mudou na sua vida?

A partir do momento em que você se torna responsável por uma criança, percebe que não pode fazer algumas coisas que, antigamente, podia. Antes, você tomava uma atitude e isso repercutiria em você. A partir do momento que tem uma criança, não. Tem que pensar também nas...

Nas consequências?

Sim.

Ela luta judô também?

Não, o curioso que ela não gostou do judô. Embora tenha dois pais judocas...

O pai e a mãe são judocas?

Sim, os pais chegaram à faixa preta no judô, mas ela não quis treinar.

Rafael, nessa época que você foi pai, você já trabalhava? Trabalhava com quê?

Já trabalhava, era funcionário público da Prefeitura [de Campo Grande], na Agência Municipal de Habitação.

E o Instituto Federal, como surgiu na sua vida?

Eu sempre procurei informações sobre concursos nos sites especializados. Aí, em 2010, soube que tinha aberto concurso pra cá e resolvi tentar.

Você ingressou em 2011 e aí foi diretamente trabalhar na Dirti, a Diretoria de Gestão de Tecnologia da Informação. Qual foi sua atuação na Dirti?

Na Dirti, eu fiquei com a parte do GLPI, que é o sistema que gerencia os chamados, e com a parte de e-mails. Essas eram as atribuições primárias.

No final de 2014, você mudou de setor, foi para a Pró-Reitoria de Extensão e Relações Institucionais (atualmente, Pró-Reitoria de Extensão), onde atua na Coordenação de Inclusão e Diversidade. O que você faz exatamente?

Exato. Essa é uma coordenação que está ligada à parte de dar condições a determinadas pessoas para que consigam seguir a sua vida institucional da maneira mais comum possível. Então, o primeiro trabalho foi colocar para funcionar o Napne, que é o Núcleo de Apoio a Pessoas com Necessidades Específicas, e agora estamos trabalhando a parte do Neabi, o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas.

Você falou também do Manual de Uso do Nome Social...

Sim, também está pra sair regulamento específico pra isso.

Rafael, até o momento a gente não falou sobre isso, mas você nasceu cego. Os médicos na época souberam por que você nasceu sem enxergar, você tem esse diagnóstico?

Não, na época foram feitos muitos exames, meus pais correram em vários médicos, mas nenhum chegou a dar uma certeza. O mais próximo que chegaram foi dizer que pode ser toxoplasmose, mas não deram certeza.

Uma consequência da doença?

Sim.

Não enxergar é algo que te limita, desafia ou não faz diferença?

Ao mesmo tempo em que você não ter o uso de algum sentido vai dificultar pra fazer algumas coisas, você não pode se apegar nisso. Você tem que usar o que tem e procurar fazer as coisas o mais normal possível. Nem tudo vai ser possível, mas o que der tem que ser feito.

Você citou anteriormente na entrevista que fez parte da seleção brasileira de judô. E agora, a gente vai ter os Jogos Paralímpicos do Rio 2016. Você conhece a equipe que vai participar?

Sim, como até hoje eu acabo competindo ainda em alguns grand prix conheço basicamente toda a equipe que está lá.

Vai ficar na torcida?

Sim, na torcida para que o judô represente bem...

Você ainda treina?

Sim, ainda treino.

Mas não tem essa ambição de estar na seleção? Isso já passou?

Não, hoje não tenho essa ambição de treinar para estar na seleção. Hoje em dia, só é treinar pra manter o condicionamento físico, por conta da saúde, e por gostar mesmo.

Você tem planos dentro do Instituto, Rafael, pretende continuar e desenvolver um trabalho aqui dentro?

É complicado, não se sabe o futuro. Mas espero que enquanto estiver aqui possa ajudar da melhor maneira possível.

Ouça a entrevista na íntegra.