ENTREVISTA
Sandro Moura Santos
O primeiro diretor-geral eleito do Campus Corumbá, professor Sandro Moura Santos, compartilha na entrevista abaixo um pouco de sua infância no interior do Paraná e de sua trajetória profissional. Filho de agricultor, despertou para a importância do ensino superior em 2003, quando ingressou na graduação em Letras, já em Mato Grosso do Sul.
Morador satisfeito de Corumbá, ele conta o que mais gosta na cidade e o que espera para o futuro do campus e do IFMS. Ele também compartilha suas principais expectativas enquanto gestor do campus e sua paixão pela literatura e jardinagem.
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Como foi a sua infância no interior do Paraná?
Eu iniciei minha vida escolar em Pato Bragado, na época distrito de Marechal Cândido Rondon (PR). Vivi na zona rural até os seis anos de idade. Quando dei início à 6ª série do ensino fundamental, mudamos para Marechal Cândido Rondon, onde eu permaneci até 2002.
Os seus pais trabalhavam na zona rural?
O meu pai sempre foi agricultor.
O senhor começou a escola e formou-se por lá?
Exatamente. Eu despertei tardiamente para a importância de cursar o ensino superior. Concluí o ensino médio em uma cidade do interior do Estado. Consegui uma colocação que por volta dos dezoito, dezenove anos era interessante na cidade em que eu estava.
Depois de mais de dez anos, estava trabalhando numa rede de autopeças quando comecei a perceber que, se eu quisesse alguma coisa maior, precisaria ter obrigatoriamente o ensino superior. Nesse momento, em 2002, considerei a possibilidade de mudar de Marechal Cândido Rondon para ingressar na universidade.
E como foi a sua entrada no curso de Letras?
Eu mudei para Corumbá para fazer a graduação em Letras, com habilitação em Português-Inglês. Fiz o vestibular em 2003, e desde então moro no município.
E por que Corumbá?
Tentei o vestibular em outros locais, passei para a UFSC [Universidade Federal de Santa Catarina] em Florianópolis. No entanto, o curso era diurno e não conseguiria conciliar trabalho e estudo. Fiz a matrícula, mas não cheguei a frequentar as aulas. Já em Corumbá, o curso era noturno, então, na verdade, eu fui um acadêmico trabalhador.
O senhor demorou pra fazer o curso superior...
Exatamente. Meus pais estudaram até o ensino fundamental, só depois que a minha mãe cursou o EJA [Educação e Jovens e Adultos], quando já éramos adultos. O grande sonho deles era que os filhos chegassem à universidade. Então, eu e meu irmão conseguimos fazer isso. Hoje tenho uma irmã que está terminando a graduação de Pedagogia.
O senhor trabalhava com o quê na época?
Durante a graduação, trabalhei como profissional autônomo, e com fotografia e filmagem de eventos sociais.
E por que a área de Letras? Tinha a intenção de ser professor?
Foi a afinidade que eu tenho com as Letras. Desde que fui alfabetizado, sempre fui um leitor de histórias infantis e depois de histórias de aventura infanto-juvenis, de histórias em quadrinhos. Tornei-me um grande leitor dos clássicos da literatura brasileira e da literatura mundial. Gosto de escrever algumas coisas e sempre tive uma ligação muito forte com a área de Letras. Por isso, optei pela carreira.
Quando prestou o concurso para o IFMS, sabia o que era o Instituto?
Sabia que era uma instituição federal, o que era um atrativo, principalmente, porque em Corumbá é muito restrita essa questão. Abre concursos para as redes municipal e estadual, mas se comparado com o plano de carreira de uma instituição federal, não são muito atrativos.
Como decidiu ser candidato a diretor-geral do campus?
Inicialmente, eu não decidi me tornar gestor. Fui convidado pelo então diretor-geral do campus, professor Rafael Mendonça, a ser coordenador do Pronatec. A partir daí passei a ter esse contato com a gestão. Depois, me tornei chefe de gabinete, fui convidado pela então diretora Claudia para ser diretor de ensino e, nesse meio tempo, fui eleito membro do Cosup [Conselho Superior do IFMS]. Acho que essas experiências me deram um entendimento muito interessante do funcionamento da nossa instituição, dos problemas e dos caminhos que nós temos para tratar dos problemas.
Participei ativamente do movimento paredista de 2012, sempre tive uma representatividade muito grande entre os nossos colegas servidores. Havia, de certa forma, uma expectativa da comunidade do campus que eu fosse candidato a diretor. Tanto que o resultado da eleição comprova. Eu sabia que tinha a confiança da comunidade e, por outro lado, também tinha uma experiência interessante do funcionamento da nossa instituição e de participar da gestão dela.
Como diretor eleito, o que espera realizar? O que espera para o campus?
Nós temos o compromisso de tornar a gestão mais participativa. Dentre esses pontos, a implantação do colegiado de campus, submeter a discussão dos investimento do orçamento à nossa comunidade. Tenho a expectativa de poder deixar uma gestão mais organizada no que se refere ao gerenciamento dos processos que são desenvolvidos no âmbito do campus de modo que, quem chegar depois, tenha ferramentas mais sistematizadas de gestão, inclusive para poder medir os indicadores da nossa instituição.
Compromissos como a implantação da merenda escolar, talvez o compromisso mais difícil que nós temos. Logicamente, espero poder já deixar o campus em sua sede definitiva, além de alguns trabalhos como, por exemplo, o incentivo à capacitação dos nossos servidores, o incentivo à pesquisa e à extensão e também a implantação de uma pós-graduação na área de Informática. Claro que esse trabalho passa pela capacitação dos professores da área.
Na sua opinião, quais os principais desafios que o campus já enfrentou e quais os principais desafios que ainda enfrenta?
O principal desafio é prestar um serviço de excelência à comunidade, como nós prestamos, o que se comprovou com os resultados do nosso curso de Análise de Sistemas no Enade [Exame Nacional de Desempenho de Estudantes], estando em uma sede que há um bom tempo já não comporta mais. Tivemos ao longo desse ano vários problemas com sobrecarga, colapso da rede elétrica e outros problemas nas instalações. Eu creio que o principal desafio, enquanto não estivermos na sede definitiva, é manter a qualidade do que nós fazemos na sede provisória. E no cenário atual, é, tanto para a gestão como para a comunidade como um todo, manter a excelência do que nós fazemos num cenário de restrição de recursos.
O que a comunidade do Campus Corumbá mais deseja hoje?
Ela quer estar na sede definitiva. Esse é o desejo. Servidores e estudantes querem estar numa sede à altura do nome de um Instituto Federal. Na sede que vai nos possibilitar crescer tudo aquilo que nós podemos crescer em Corumbá.
Em quê a sua formação na área de humanas contribui para a atuação como diretor, gestor ou como professor? O senhor acha que tem um diferencial?
Nós temos alguns diretores que são da área de Letras. Eu entendo que a formação na área de humanas, teoricamente, dá um viés mais crítico à formação acadêmica. Penso que o aspecto crítico, de análise da sociedade, da própria educação, essas discussões acontecem na universidade. Nesse sentido, talvez seja uma das contribuições que um profissional da área de humanas pode dar. Ter uma visão de que a formação que nós vamos prestar aos nossos estudantes, seja no ensino médio, seja acadêmico, é uma formação técnica de excelência, mas também uma formação humana, um profissional de excelência, mas também um profissional crítico.
O que o Instituto hoje representa na sua vida?
Todo meu projeto de vida profissional está dentro do IFMS. Eu me casei em Corumbá, minha esposa é de Corumbá, a minha filha nasceu ali, então, eu não tenho perspectiva de sair de Corumbá ou do Mato Grosso do Sul, até pela idade que eu tenho hoje, a minha perspectiva profissionalmente é construir toda a minha carreira acadêmica dentro do IFMS.
Quantos anos o senhor tem?
44.
E para o futuro, o senhor já disse o que espera para o campus, mas e para o Instituto Federal como um todo?
Espero que a nossa instituição se consolide como uma referência para a sociedade na oferta de educação técnica e tecnológica e na extensão e pesquisa aplicada. Nós ainda não somos isso. Quando o estudante sair do ensino médio no interior e pensar no Enem, ele considerar os nossos cursos de graduação como uma opção. Também ter a pesquisa atuando mais próxima do setor produtivo, desenvolvendo trabalhos para resolver problemas práticos do setor produtivo do nosso Estado ou das instituições públicas.
O que faz quando não está trabalhando? Quais seus hobbies?
Eu me dedico muito a minha família. Meu hobby é jardinagem e fazer manutenção, pequenos reparos e melhorias, na minha casa. Estar com os amigos, jardinagem, estar com a família, cuidar das pequenas coisas triviais do lar.
O que gosta em Corumbá?
Alguns anos antes de mudar pra lá, eu estive duas vezes em Corumbá. Gosto muito por ser calor. A primeira vez que estive em Corumbá fiquei impressionado com o Pantanal. Também acho que o calor humano, o caráter alegre e festivo do povo são coisas que me atraem muito.
O senhor disse que se interessa pelos clássicos da literatura. Se pudesse indicar um livro para os nossos servidores, qual livro indicaria?
Da literatura brasileira, Memórias Póstumas de Brás Cubas. Internacional, há muitas coisas interessantes. Eu, por exemplo, isso vem da adolescência, gostei sempre dos romances de aventura do Júlio Verne, como A Volta ao Mundo em 80 dias e Farol do Fim do Mundo.