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ENTREVISTA

Fernando Silveira Alves

Professor de Matemática do Campus Coxim e presidente da Comissão Permanente de Pessoal Docente do IFMS
publicado: 11/05/2016 16h03 última modificação: 11/05/2016 16h04

“A matemática não morde”. Com essa visão sobre o ensino da matemática, o professor Fernando Silveira Alves, 28 anos, tenta chegar aos corações dos estudantes e incentivá-los a aprender a disciplina. Passando pela primeira experiência como professor de uma instituição pública de educação profissional e tecnológica, ele diz que aprendeu a usar a afetividade para incentivar bons resultados. “Quando o estudante confia em você, fica mais fácil para ele querer aprender”, explicou.

Formado em Matemática pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e professor no campus Coxim do IFMS, Fernando é coordenador do curso de Transações Imobiliárias, na Educação a Distância, e presidente da Comissão Permanente de Pessoal Docente (CPPD), que trata de assuntos como o Reconhecimento de Saberes e Competências.

Criativo e engajado, já tentou resolver o problema da falta de transporte publico de qualidade em Coxim para os estudantes. Durante a execução do mestrado, propôs uma nova forma de calcular o trajeto dos veículos. A ideia só não foi implantada por questões políticas, segundo ele.

Sobre o RSC, Fernando é direto ao dizer que o interessado precisar ler, se informar e, a partir daí, tirar dúvidas e juntar os documentos necessários para conseguir o benefício.

Natural de Rondonópolis, no vizinho Mato Grosso, ele explica que escolheu Coxim para trabalhar por ficar mais próximo da cidade natal. Antenado às novas tecnologias, diz ainda que acredita estar mais próximo dos estudantes da educação a distância graças à tecnologia. E, pra fechar, revela que sua diversão são filmes e seriados de televisão, que ele diz assistir “Só um pouquinho. Uns quinze a dezoito”, quando sobra tempo.

Leia a entrevista e divirta-se!

Professor, você estudou matemática em Rondonópolis, sua cidade natal, mas não tem sotaque de quem é mato-grossense.

Eu que sou de lá é meio difícil falar se tem sotaque ou não. Eu nunca percebi isso. Em Cuiabá é bastante forte mesmo. Aquele puxado, mas o rondonopolitano em si é bem diferente.

E como veio parar em Mato Grosso do Sul?

Com o concurso. Chegou uma época da vida de formado que eu estava dando 70 aulas por semana. Fui fazendo concurso até que chegou o momento em que um colega que já trabalhava aqui, o professor Francisco [Xavier da Silva – diretor-geral em Coxim], falou "vamos fazer pra Coxim". Eu fiz porque a cidade é mais próxima de Rondonópolis. E fui aprovado e nomeado, assim, muito rápido, em 2011.

Os estudantes ainda têm medo de matemática?

Ah, sempre, né! Mas é aquela história, a gente tem que mostrar as coisas bonitas e que a matemática não é esse bicho, ela não morde. A não ser que o aluno queira! Tudo na vida vai ter lá suas dificuldades, mas é a gente querer vencer elas e não desistir. Desistir sempre é mais fácil.

E como você trabalha a Matemática no Instituto Federal, onde há estímulo à pesquisa aplicada?

Eu tento mostrar nas minhas aulas, principalmente com o ensino médio, onde nós podemos aplicar a matemática, por exemplo, com o pessoal da informática usando a disciplina de algoritmo. Para isso precisa saber a base da matemática. No novo curso de Alimentos, nós temos empregado a matemática para definir a dieta.

Como esse estudante chega do ensino fundamental em relação ao conhecimento de Matemática?

Com uma defasagem grande. Muitos pensam também que chegam lá e, se não conseguirem a média, o conselho de classe salva, esse tipo de coisa. E eu sou um professor que gosta de passar pra eles o regulamento, como funciona a instituição. Nós temos que saber como é que funciona o fluxo, mostrar que temos regras dentro do Instituto e que devemos cumpri-las. Uma coisa que eu aprendi bastante com o ensino médio é a questão da afetividade. Tratar o estudante como um amigo dentro da instituição, confiar em você. Quando o estudante confia em você fica até mais fácil pra ele querer aprender.

Fala um pouquinho dessa defasagem que vem do ensino fundamental. O estudante do Instituto chega a ter um choque quando se depara com essa Matemática.

Com a Matemática em si, não. Acho que é com as disciplinas técnicas que chega o grande choque. A Matemática I, do ensino médio, pelo menos metade dela já foi vista no fundamental. No primeiro semestre, um conteúdo não muito extenso e uma quantidade boa de aulas dá pra trabalhar de um jeito melhor e sempre incentivar ele a vir nos plantões de atendimento. Eu sou um professor que cobra muito. No meu campus eu sou um dos que têm mais frequência no plantão dos estudantes. Faço uma parceria de benefícios com o estudante e digo "vem no plantão e você vai ter uma pontuação diferenciada, caso necessite". Fica claro pra eles que, quando vêm, e se dedicam, não vão necessitar. Vão chegar na média, vão passar muito bem. O primeiro e o segundo semestre, na minha visão, são o pontapé inicial pra que ele não reprove.

E eles participam dos plantões?

A maioria sim. Em média 60 a 70% da turma estão vindo no horário do plantão. Vamos ver o que acontece agora com as primeiras provas, com a acumulação de trabalhos das outras disciplinas.

Ainda em relação à matemática, o seu mestrado feito na Unicamp foi um estudo sobre problemas de roteamento de veículos aplicados no planejamento logístico do transporte escolar em Coxim. Explica mais pra gente sobre essa pesquisa.

Nós temos um problema em Coxim que é o transporte escolar. Como o aluno vem pro nosso campus. Não existe transporte público na cidade, então a prefeitura cede. Muitos alunos viviam reclamando que o ônibus vinha muito lotado, chegava atrasado. Então, quando eu comecei a fazer o mestrado, surgiram várias ideias. A primeira foi fazer um programa, alguma coisa matemática pra melhorar a criação do horário escolar. Depois eu vi que isso era mais importante para o Campus Coxim, onde a ideia é definir uma rota de ônibus pra atender os nossos estudantes. Então, surgiram algumas perguntas. Quantos pontos de ônibus eu preciso, no mínimo? Quantos alunos? Quantos ônibus? O menor número possível de ônibus porque, querendo ou não, eu quero minimizar custos. Mas eu quero minimizar outra coisa, o tempo de permanência do estudante dentro do ônibus. Minimizar o tempo de permanência dentro do ônibus é diminuir a rota que ele faz. Então, no trabalho, a gente conseguiu mostrar que pra atender o nosso campus com três veículos era suficiente. O aluno não passaria mais do que 25 minutos dentro do ônibus. Eu penso nisso porque existem relatos de alunos que acordam às 5 da manhã para pegar o ônibus e ficam quase uma hora dentro do ônibus. Se fosse feito isso, em 25 minutos ele estava na escola. Em casa também ele teria meia hora a mais de sono. Pra um adolescente de 13, 14 anos, meia hora a mais de sono é uma coisa que, na minha visão, eu não tenho dados pra isso, podia melhorar o rendimento escolar dele.

E esse estudo ele foi colocado em prática?

Não, a questão política da cidade não permitiria isso. Porque se dedicar três ônibus exclusivos pro IFMS, outras escolas também iam querer.

O senhor também desenvolveu uma pesquisa relacionada ao desenvolvimento do ensino da química por meio de jogos. Como ela foi desenvolvida?

Foi em parceria com professor Igor Rodrigues, que é o atual coordenador do curso de Química. Ele teve uma ideia de fazer jogos com o PowerPoint e o Excel. Trabalhei mais com a parte do Excel. Fizemos dois jogos.

Você também é tutor presencial de um curso de educação a distância de Transações Imobiliárias. Qual a diferença de lidar com o aluno do ensino regular presencial e com o aluno do ensino a distância?

Nós temos grupos no Whatsapp pra tirar dúvidas dos alunos da educação a distância, pra mandar recados, conversar. Não tem dia, não tem noite, não tem final de semana. Isso também é uma coisa que eu sempre tive com meus alunos. Diversas vezes os alunos mandavam dúvida de madrugada e dez minutos depois eu estava respondendo. Vejo o e-mail no meu celular e não resisto.

Além de professor de matemática, tutor presencial no curso EAD, você também é presidente da Comissão Permanente de Pessoal Docente (CPPD). Qual é a atuação da CPPD dentro do Instituto?

ACPPD tá fazendo quase dois anos e tem muitas coisas que nós estamos aprendendo ainda. Atualmente, trabalhamos com progressão por mérito, retribuição por titulação, homologação do estágio probatório, estabilidade do servidor, o RSC [Reconhecimento de Saberes e Competências], que foi uma conquista. Nesses dois anos nós conseguimos ver algumas coisas que precisam ser melhoradas.

Todos esses processos que você citou e alguns outros relacionados a docentes para o Instituto passam pela CPPD?

Sim, passam pela CPPD. Cada campus tem uma subcomissão. Só os campi novos que ainda não, Naviraí e Jardim. Alguns outros campi, no decorrer do tempo, os servidores foram sendo removidos, foram fazendo eleições. A gente tem esse papel de tentar fazer uma formação. Ainda estamos melhorando isso.

E você tem muito trabalho na CPPD?

Tem bastante trabalho. Trabalho é o que não falta pra gente.

Hoje você está com quantos processos, por exemplo, pra avaliar?

Em torno de uns 85 a 90.

Entre esses processos, tem a questão do RSC, que é algo que os docentes ainda têm muitas dúvidas. Basicamente, como é o processo de RSC? Qual o fluxo?

Sim. A primeira coisa que o servidor tem que fazer é ler a legislação. Na página do Conselho Superior, lá nas Resoluções de 2015, há a resolução número 15. Se tiver dúvida, procurar aquele servidor mais experiente dentro do campus ou a própria subcomissão, ou enviar um e-mail pra mim que a gente vai tentar tirar essas dúvidas. Depois que leu, começar a parte de juntada de documentos, fazer todo levantamento de sua vida, do que pode contar.

Lembrando que é reconhecimento de saberes e competências. Um conhecimento adquirido na infância pode entrar aí?

Com certeza, um curso de informática feito quando era adolescente, tem um prêmio que você recebeu na vida, também contabiliza.

Quer dizer, esse docente que comprovar esse saber e competência, passa a receber uma retribuição por titulação?

Isso. Superior àquela que ele já tem. Se ele é graduado, de especialista. Se ele é especialista, retribuição da titulação de mestre. Se ele é mestre, de doutor.

O Instituto Federal é sua primeira experiência com ensino de educação profissional e tecnológica?

Sim.

Fala um pouquinho dessa experiência. Tem sido interessante pra você?

Muito interessante, porque nós trabalhamos fazendo o elo entre ensino, pesquisa e extensão. Não é só dar aula. E fazer a união dos três, às vezes, não é fácil. Nós demoramos um tempo pra pegar o ritmo. Se nós professores demoramos, imagina o nosso estudante que acabou de entrar também. Então é uma experiência assim completamente diferente porque os estudantes já chegam com os olhos brilhando e nós temos que devolver os olhos brilhando pra eles.

E como é que um professor que dá aula de Matemática, é presidente da CPPD e tutor de um curso de ensino a distância tem tempo pra diversão?

Sempre tem que dar um tempo. Dormir cinco horas por noite é suficiente, né?

E que diversão você tem?

Coxim é uma cidade bem tranquila, que a gente pode pescar, ir pra um rio. Mas eu gosto bastante mesmo de assistir um bom filme, seguir um bom seriado, esse tipo de situação.

Segue muitos seriados no momento?

Só um pouquinho. Uns quinze a dezoito. Cada dia aparece um novo.